terça-feira, 18 de agosto de 2009

Controle público

Autor(es): JORGE MARANHÃO
O Globo - 18/08/2009



O recente episódio do afastamento da secretária da Receita Federal causou uma reação indignada de vários setores da sociedade e das próprias entidades das carreiras de Estado. A ponto de a Unafisco, a União Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, ter publicado um anúncio de jornal em repúdio à decisão de exoneração da secretária. Sobretudo em meio a um cenário em que se questiona a transparência e licitude de atos e contratos da Petrobras, multada pela própria Receita Federal, questionada pelo TCU e em vias de investigação por uma CPI.
O Brasil vive hoje um momento especial, em que o fortalecimento das instituições de fiscalização e controle da máquina pública, em dobradinha com a vigilância da mídia e das organizações da sociedade, tem surtido o efeito positivo de trazer para o cidadão a noção de que não só é preciso, mas que é possível, sim, controlar os mandatos, os governos e o que os políticos fazem com o dinheiro público. Para tanto, conhecer o verdadeiro valor e as funções das instituições do estado democrático de direito é fundamental, visto que um dos maiores sintomas de nosso déficit de cidadania é a confusão que comumente se faz entre governos e as instituições do Estado.É no século XVIII que se originam as instituições do estado moderno com a finalidade de estabelecer limites efetivos à sanha autoritária dos governantes.Para regular e fiscalizar suas condutas, que, de outra forma, poderiam tentar perpetuar a relação de dominação sobre os cidadãos. A consolidação das instituições do Estado significa a garantia de que os governantes também deverão estar submetidos ao império da lei, como qualquer cidadão comum e para a manutenção das salvaguardas fundamentais da ordem democrática.Esta transformação dramática se traduz na criação de uma consciência de que o Estado deve ser instrumento do cidadão e não dos governantes, munido de quadros de gestores egressos de concursos públicos, com prerrogativas de função e planos de carreira, exatamente para bem representar o interesse público e limitar o poder dos governantes.Pois o que se presencia hoje no cenário político é a decisiva disputa democrática entre cidadãos governados e governantes pela melhor serventia das instituições do Estado, que devem servir apenas ao interesse público e jamais se servir do cidadão por interesse deste ou daquele partido político. Valorizar e estimular o trabalho das instituições do Estado é a garantia da ordem democrática e a expressão maior da coerência entre a consciência e a conduta de plena cidadania. Afinal, é da essência da ordem democrática a alternância de governos. Enquanto que as instituições e a cidadania devem aspirar à perenidade.

Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra