quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Incompetência pesa bem mais

Por Luciano Pires
Blog do Servidor/CB - 08/09/2009


Na proposta de Orçamento enviada ao Congresso Nacional, a União estima desembolsar R$ 169,4 bilhões com o funcionalismo dos três Poderes em 2010 — em valores nominais, o Brasil está diante de um recorde. A folha de pessoal prevista para o próximo ano equivale a 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Tal patamar tem grande impacto financeiro nos cofres públicos, não resta dúvida, mas nada comparado ao estrago psicológico que provoca na sociedade. Para muita gente que se irrita com a alta carga tributária, e não vê retorno daquilo que patrocina, gasta-se muito (e mal) com salários de servidores.


De 1995 para cá, a injeção de recursos destinados aos contracheques da burocracia não parou de crescer. Independentemente de se o ano foi de pujança ou de estagnação econômica, o dinheiro sempre pingou. A relação folha de pessoal versus PIB, no entanto, só ficou acima de 5% quatro vezes desde então — em 2009 a expectativa é de que o fenômeno se repita por causa da agressiva política de reajustes escalonados autorizada pelo Executivo federal.

Evitar que a despesa com o custeio de mão de obra alcançasse o “teto” sempre foi visto como sinal de austeridade dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Pode até ser, mas outras variáveis deveriam ser consideradas nessa conta, como, por exemplo, o custo contábil da incompetência. Que tipo de prejuízo um chefe despreparado,
desmotivado, preguiçoso ou ideológico demais transfere para a equipe? Manter pessoas erradas em cargos estratégicos tem que tipo de conseqüências sobre os processos?

Pagar salários altos ou baixos segundo os padrões de mercado é mero detalhe perto dos traumas que um incompetente pode causar. No setor público, isso é pior do que na iniciativa
privada porque há o instituto da estabilidade. Ninguém pode ser demitido por insuficiência. Por mais inábil que seja, o funcionário estará lá, mandando ou sendo mandado. Sob esse
ponto de vista, cara não é a remuneração, mas manter, sabe-se lá por quanto tempo, uma estrutura que não funciona direito. Sem poder mudá-la, sem que quem está na mesa ao lado possa mostrar que é possível fazer melhor.

Dinheiro não é tudo!
Hospitais públicos precisam de dinheiro o tempo todo, certo? Não. No Ministério da Saúde, uma ação inédita coordenada por gestores da casa e de fora da estrutura oficial mostra que recursos são importantes, ajudam bastante, mas não resolvem o problema se não tiverem propósito. “Não basta pedir, é preciso pedir em cima de uma ação estratégica”, explica a secretáriaexecutiva do Ministério da Saúde, Márcia Bassit.

Agora mesmo o ministério está empenhado em reorganizar os seis hospitais federais em funcionamento no Rio de Janeiro. Famosas por greves e donas de históricos de maus atendimentos, essas instituições são provas vivas do que decisões equivocadas e oportunismos políticos são capazes de fazer com aparelhos de Estado que tinham tudo
para funcionar bem.

Atrás de recursos, mas principalmente de expertise, Bassit chamou
para conversar seis hospitais de excelência no Brasil: Sírio Libanês, Hospital do Coração,
Oswaldo Cruz, Samaritano, Albert Einstein e Moinhos de Vento. Entes filantrópicos, essas organizações foram convidadas a participar de um projeto que prevê a transferência de tecnologia em gestão e qualificação de profissionais. Juntos, os seis hospitalões vão investir R$ 43 milhões, que, somados a recursos federais, servirão para contratar consultorias,
repassar conhecimento e mudar o foco dos coirmãos.

Mais do que justo. Afinal de contas, os parceiros privados são consideradas instituições filantrópicas e, por lei, precisam oferecer contrapartidas à altura sobre aquilo que recebem
de benefícios do Estado. O plano é envolver, do início ao fim, os servidores da rede federal instalada na Cidade Maravilhosa. Há prêmios para quem apresentar boas ideias. Os núcleos gestores formados em cada hospital recebem sugestões de quem está ali, no dia a dia do atendimento e da administração.

Em outra frente, o Ministério da Saúde convocou aprovados em concursos que aguardavam nomeação, mapeou a estrutura física e está combatendo com realismo e sem pirotecnia a
questão da terceirização.
Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra