Fabiana Mendes
Jornal de Brasìlia - 17/09/2010
Após seis meses de paralisação, os técnicos-administrativos da Universidade de Brasília (UnB) podem voltar em breve ao trabalho. Ontem, a ministra Cármem Lucia, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar, garantindo a Unidade de Referência de Preços (URP) à categoria e a volta do pagamento de 26,05% para todos os técnicos e a reposição dos valores cortados desde o ajuizamento da ação, em maio passado. Os servidores devem se reunir na terça-feira para votar o fim da greve, mas existe a possibilidade de que a decisão seja antecipada. A greve, que já dura mais de 180 dias, trouxe, neste período, vários transtornos aos estudantes e também ao funcionamento da universidade. Almoxarifado fechado, biblioteca funcionando parcialmente, secretaria sem emitir documentos e alunos prejudicados. Assim estava a UnB. O reitor da universidade, José Geraldo de Sousa Júnior, havia afirmado esta semana o apoio ao movimento e disse defender o pagamento de 26,05%, referente à URP aos funcionários. "Sou a favor do fundamento da greve. Ela não é abusiva e temos postura corporativa", disse ele. Mas o fato é que alterações na condução dos serviços tiveram que ser feitas para que o funcionamento da universidade não fosse totalmente afetado. Porém, mesmo assim, há quem tenha se sentido prejudicado. O aluno de Agronomia da UnB Wescley Carlos Marques é um deles. "A secretaria não está emitindo certidões para o passe estudantil e nenhum outro documento. A biblioteca funciona apenas pela porta dos fundos. Quem deseja estudar, fazer empréstimos ou devolução tem que ter paciência. "Estou com cinco livros para devolver e não consigo", relatou.
FOME
Para chamar atenção à greve, Marcelo Parise, que trabalha no Instituto de Física e chefia um laboratório de Química na universidade, resolveu fazer greve de fome. Ele não come há 168 horas, está à base de água de coco. "Meu protesto tem um objetivo direto, a contestação da injustiça que todos os funcionários foram submetidos", resume. Marcelo explica que ele e outros funcionários fizeram um cálculo e chegaram à conclusão que o valor da URP corresponde a seis dias, quatro horas e 47 minutos de fome por mês.
SAIBA +
A Unidade de Referência de Preços (URP) é um mecanismo de correção salarial criado pelo Plano Bresser (1987) para repor perdas inflacionárias. Em 1989, o Plano Verão extinguiu a URP. Como a extinção gerou perdas salariais de 26,05%, ações judiciais propostas por trabalhadores e sindicatos em todo o Brasil obtiveram vitórias em vários tribunais até 1994 . Em 1994, o STJdeterminou que se realizasse o pagamento da extensão para todos os servidores.