Autor(es): Luciano Máximo
Valor Econômico - 13/09/2011
São Paulo - O
movimento grevista dos servidores técnico-administrativos das universidades
federais entra hoje no centésimo dia e obriga 55 das 59 instituições de ensino
superior vinculadas ao Ministério da Educação (MEC) a trabalhar no limite de
50% da capacidade na prestação de serviços administrativos em geral, apoio à
área acadêmica e funcionamento de bibliotecas, laboratórios de informática e
restaurantes universitários, atividades que afetam mais de 500 mil estudantes.
Léia de Souza Oliveira, coordenadora-geral da Federação dos
Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras (Fasubra),
explica que não é possível fazer um balanço preciso sobre a adesão da
categoria, de 182 mil trabalhadores, porque os grevistas têm autonomia para
negociar de forma independente com cada universidade. Mas, segundo ela, a
paralisação diminuiu o ritmo da atual política de expansão universitária do
MEC, processo que abriu 14 instituições desde 2003.
Como as mais de 50 universidades federais participam de um
programa de ampliação de infraestrutura física e de cursos e vagas, a greve afeta
diretamente o andamento dos projetos. "Muitos técnicos da área de
engenharia e fiscalização estão de braços cruzados. As obras não pararam
completamente, mas o ritmo dos trabalhos diminuiu", afirma Léia.
O secretário de Ensino Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa,
admitiu que a área administrativa das universidades federais funciona com 50%
da capacidade, mas disse que o efeito da greve sobre as ações de expansão
"é ínfimo". "Uma paralisação desse porte, que já dura cem dias,
traz fragilidades e inconvenientes, mas os reitores têm conseguido vencer isso.
Quanto à expansão, fazemos monitoramento direto, são mais de 3 mil obras. O
problemas são ínfimos."
Nos seis campi da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
que concentra cursos na área de saúde, dos cerca de 6 mil servidores, 1,5 mil
estão parados. De acordo com Ana Paula Rodrigues, coordenadora do Sindicato de
Trabalhadores da Unifesp (Sintunifesp), o novo campus de Osasco, inaugurado há
menos de um ano, tem problemas para cumprir o cronograma da abertura de cursos
e contratação de professores.
"Os servidores da unidade de Osasco decidiram, em
acordo com a reitoria, não dar sequência à greve para não afetar a expansão,
mesmo assim o processo está complicado, porque há um déficit de profissionais,
o que é admitido pelo conselho universitário. Isso está ligado com a nossa
reivindicação de abertura de concursos para novas contratações", diz Ana
Paula.
A greve começou dia 6 de junho e atrasou o início das aulas
em algumas universidades. Entre as principais reivindicações da categoria estão
o aumento do piso salarial inicial, de R$ 1.034 para R$ 1.635, e o cancelamento
do projeto que cria uma estatal para gerir os hospitais universitários, além do
cumprimento de acordos feitos em 2007.
Há duas semanas, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou
a greve ilegal e obrigou que pelo menos 50% dos serviços sejam oferecidos
regularmente. "Mesmo assim a adesão é maciça, temos que cumprir a
determinação para não pagar multa de R$ 50 mil por dia", afirma Léia.