sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Administração tem de ver o Estado como um todo



Valor Econômico     -     25/11/2011






Quando se fala em gestão pública eficiente, três temas emergem quase que automaticamente: funcionalismo, recursos financeiros e tecnologia de gestão. No Brasil, é quase consenso, todos esses recursos estão disponíveis em nível mais ou menos suficiente. Mas para aproveitá-los e aprimorar a administração o país terá, antes, de enfrentar alguns desafios.

Na opinião de Joaquim Rubens Fontes Filho, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FVG), uma questão fundamental é a da transversalidade - no país, em geral, a gestão é feita por área, não levando em conta que o Estado é um só organismo. Já a administração transversal considera a interatividade entre os vários setores.

Fontes Filho explica que investimentos sociais e em educação, por exemplo, têm reflexos positivos na área de saúde, que desse modo pode demandar menos recursos: "Um ferido por bala de revólver custa muito mais ao Estado do que os pacientes que compõem mais de metade dos atendidos na rede pública. A administração tem de ver o Estado como um todo".

Acima de tudo, segundo ele, é necessário aumentar a transparência da gestão: "No Brasil, sequer sabemos quantas são as empresas estatais das esferas federal, estadual e municipal".

Outro ponto relevante para melhorar aproveitamento dos recursos disponíveis, concordam os especialistas, é enfrentar o corporativismo dos servidores e o excesso de cargos comissionados nas várias esferas. Para Fontes Filho, isso implica, primeiramente, em fortalecer as instituições e empresas públicas, que desse modo teriam como impor seus objetivos frente aos interesses políticos da ocasião.

O excesso de comissionados em instituições com baixo nível de autonomia compromete os resultados da gestão de forma flagrante: quando muda o partido no poder e esses funcionários são substituídos, o aprendizado das novas tecnologias e sobre os projetos em andamento volta quase sempre à estaca zero. Para Carlos Buenos Ayres, professor do departamento de ciências sociais da Universidade Federal do Piauí, estudioso da administração pública, faltam mecanismos para proteger a administração das investidas políticas.

Mário Pasquarelli, coordenador do curso gerente de cidades da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) aponta ainda outra dificuldade: a partidarização do funcionalismo. Ele lembra que muitas vezes os governos não conseguem implementar projetos por resistência dos servidores, que seria mais política do que técnica. E cita como exemplo a dificuldade do governo paulista para instituir um novo plano de carreira para os professores, baseado em mérito: "A discussão é extremamente politizada. Os professores não querem muitas mudanças".



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