Sueli Aparecida Navarro Garcia
O Globo - 20/11/2011
No serviço público é corriqueiro encontrarmos dois tipos de
doenças graves: a apropriação do público pelo privado e a inércia. Reforçando o
imobilismo, comumente ouvimos a seguinte frase: "Se está dando certo, para
quê mudar?" Não raro, consegue-se barrar processos de mudança óbvios . As
resistências ocorrem por motivos diversos, como a manutenção de chefias, de
estruturas de poder, de zonas de conforto, de privilégios e o medo de cobrança
por eficiência.
Há 12 anos, assumi a direção da TV Câmara com um grupo de
jornalistas decidido a mudar essa realidade. Instados a coibir a apropriação do
público pelo privado, buscamos em Habermas, no seu célebre livro "Mudança
estrutural da esfera pública", o princípio de que o Estado é o "poder
público".
Vivemos uma experiência que nos apontou o caminho para a
estruturação de uma organização de comunicação eficiente e voltada para os
interesses da população. Percebemos que era muito comum a confusão de conceitos
e de práticas; assim como a apropriação indevida do espaço público por
deputados, partidos políticos e funcionários.
Contratamos uma consultoria que realizou um intenso debate
com os funcionários e que nos ajudou a definir estratégias: criação de
identidade editorial, padronização da cobertura jornalística, criação de grades
de programação, acervo, cenários, controle de recursos, fluxograma de produção,
controle de custos, investimentos e fluxo de caixa. O resultado, vencidas as
resistências, é uma emissora com credibilidade.
Vivemos momento semelhante na Secretaria de Comunicação. A
direção da Câmara pretende reformular o organograma da Casa, que data de 1971.
Novas práticas de administração nos mostram processos modernos e ágeis. A
população não aguenta mais carregar um Estado caro e lento. Por isso, estamos
fazendo a reestruturação e a integração da estrutura: TV, rádio, jornal,
agência de notícias e relações públicas.
Segundo a pesquisa Newsroom Barometer, com mais de 700
editores de jornais de 120 países, 86% dos editores acreditam que as redações
integradas serão a norma; 83% acreditam que os jornalistas deverão ser capazes
de produzir conteúdos para todas as mídias em até 5 anos; 44% já possuem
redação multimídia e integrada.
Esses resultados reforçam nossa decisão de mudar. É urgente
e necessário evitar a duplicidade de processos entre os veículos; racionalizar
a mão de obra, para mais e melhores conteúdos; atualizar o processo de
convergência das mídias e a crescente interatividade com os usuários; manter
unicidade na gestão de pessoas, relativa a critérios para funções
comissionadas, a treinamentos e a licenças. Delineamos uma mudança nos
paradigmas que dominam as estruturas, não só no serviço público, mas também em
empresas privadas, com foco no nosso usuário: a população.
SUELI APARECIDA NAVARRO GARCIA é diretora da Secretaria de
Comunicação da Câmara dos Deputados.