JORNAL DO COMMÉRCIO
- 18/11/2011
O grupo de trabalho formado pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, para discutir mudanças no regime de
previdência dos servidores públicos federais voltou a se reunir nesta
quinta-feira, na sede do tribunal, sob a coordenação do ministro Marco Aurélio
Mello e com a presença do ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves
Filho. O grupo discute o Projeto de Lei nº 1992/2007, em tramitação na Câmara
dos Deputados, que cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor
Público Federal (Funpresp).
O ministro Marco Aurélio apresentou suas dúvidas,
principalmente em relação ao custeio do fundo, tendo em vista que não haverá
paridade entre o percentual pago pelo servidor (11%) e o montante a ser
custeado pela União (que cairá dos atuais 22% para 7,5%, de acordo com o
projeto). A informação dos representantes dos ministérios da Previdência e da
Fazenda é de que a capitalização, hoje inexistente, permitirá a
sustentabilidade do fundo, no qual cada servidor terá uma conta individual.
“O objetivo do governo é obter um sistema melhor para o
Brasil e para o funcionalismo. Se tivesse havido essa capitalização, não
teríamos o déficit previdenciário que temos hoje, de R$ 51 bilhões”, afirmou o
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Para os
representantes das associações de servidores, no entanto, é difícil acreditar
que a redução de 22% para 7,5% na contribuição paga pela União permitirá que o
Brasil tenha finalmente um sistema de previdência sustentável, sem déficit,
como afirmam os defensores do projeto de lei.
Outra preocupação dos servidores é com o limite imposto pela
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) aos gastos com pessoal. O governo afirma
que, se necessário, sugerirá mudanças na lei, mas os servidores querem
garantias de que isso ocorrerá se for preciso. O ministro Marco Aurélio quis
saber do ministro da Previdência se haveria a possibilidade de haver fundos
distintos conforme o Poder (Judiciário, Executivo e Legislativo), mas Garibaldi
Alves esclareceu que o fundo de previdência deverá ser uma entidade única.
Haverá, contudo, planos individualizados, com comitês próprios que definirão
planos de investimento e de benefícios, por exemplo.
O ministro Marco Aurélio receberá representantes da
Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip)
na próxima semana, para inteirar-se mais profundamente dos temores dos
servidores sobre o fundo. Uma das preocupações do ministro é com relação à
preservação dos benefícios atuais. Embora o fundo seja destinado aos servidores
públicos federais que ingressarem no serviço público após sua criação, será
dado ao servidor em atividade o direito de opção de ingresso na Funpresp.
“Estamos levando ao governo a preocupação com o futuro do
serviço público, já que a situação daqueles que já estão integrados a esse
serviço está preservada. Cogita-se a manifestação de vontade de adesão ao
futuro sistema e surge a grande problemática, que é o limite imposto com o
gasto de pessoal pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas vamos encontrar
soluções. É claro que tudo o que é novo gera dúvidas, e é natural que isso
ocorra, mas vamos buscar um ponto de equilíbrio para que se marche com
segurança”, afirmou Marco Aurélio.
INJUSTIÇA. De acordo com o secretário-executivo do
Ministério da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, o fundo corrigirá uma
“injustiça atual” que faz com que um servidor que tenha ingressado na carreira
aos 20 anos receba o mesmo valor de aposentadoria daquele que fez concurso aos
40. Segundo Gabas, o servidor que contribuir ao longo de 33 a 37 anos sairá
para a inatividade com provento semelhante à sua última remuneração, mas aquele
que ficar mais tempo – entre 40 a 45 anos – poderá ter direito a uma
aposentadoria correspondente ao dobro de seu último salário.
Isso será possível porque cada servidor terá uma conta
individual e o seu histórico de contribuições será levado em conta. Os
representantes do governo federal enfatizaram que quem já está no serviço
público federal não será afetado, mas terá direito a participar do fundo. O
projeto de lei que está em tramitação na Câmara dos Deputados desde 2007 está
em sua terceira versão. De acordo com Garibaldi Alves, a última versão será
analisada no início da próxima semana, em reunião de ministros no Palácio do
Planalto, e depois encaminhada ao ministro Marco Aurélio. Uma nova reunião do
grupo de trabalho deverá ocorrer ainda na próxima semana, após a divulgação da
última versão do projeto de lei.