Correio Braziliense
- 13/03/2012
A Polícia Federal recebeu dezenas de queixas. Além da troca
de provas que levou à anulação do exame para três cargos, agentes vão apurar
suposta fraude eletrônica durante a aplicação dos testes
Além da troca de provas para três cargos, que foram anuladas,
candidatos denunciam a falta de controle do uso de aparelhos eletrônicos nas
salas durante aplicação dos testes
Depois de dezenas de queixas registradas, a Polícia Federal
decidiu investigar as irregularidades na aplicação das provas do cobiçadíssimo
concurso público para o Senado, que oferece 246 vagas com salários que vão de
R$ 13,8 mil a R$ 28,3 mil. No domingo, após uma troca de provas em quatro salas
da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas (Facitec), em Taguatinga, a
Fundação Getulio Vargas (FGV) anulou as avaliações para três cargos: de
analista legislativo, nas áreas de análise de sistemas e análise de suporte de
sistemas, que oferecem sete e três vagas respectivamente, e de técnico
legislativo, na área de enfermagem, com cinco oportunidades.
Agora, 10.056 pessoas terão de refazer as provas de uma
seleção que já começou marcada por polêmicas. Além de a FGV ter sido contratada
sem licitação para organizar o processo seletivo, a Comissão do Concurso
Público do Senado Federal expulsou, no mês passado, uma das suas integrantes, a
servidora Lúcia Maria Medeiros de Souza, após verificar que ela estava inscrita
para concorrer a uma das vagas de consultor legislativo (leia mais na página
10).
Os problemas na aplicação das provas vão além da troca de
cadernos. Ontem à tarde, três candidatos foram à Polícia Federal denunciar a
falta de controle do uso de equipamentos eletrônicos. Ao longo do dia, foram
divulgadas na internet fotos supostamente tiradas dentro das salas de aula
durante a aplicação dos exames. "Não houve segurança. Apenas nos
entregaram um saco para colocarmos os celulares. Se tivesse alguém com ponto
eletrônico no ouvido, ninguém reclamaria", disse Felipe de Castilhos, 32
anos, candidato ao cargo de policial legislativo. Candidatos também reclamaram
de erros de digitação e de português na elaboração das questões.
As queixas dos candidatos afetados pelas trocas das provas
foram feitas na 21ª Delegacia de Polícia de Brasília. Mas a Polícia Civil
alegou que, como o assunto não é de sua alçada, encaminhou o caso para a
Polícia Federal. Além de enfrentar todo esse desgaste, os candidatos continuam
sem saber a nova data das avaliações. No domingo, a FGV chegou a informar que
os exames seriam feitos em 29 de abril, mas voltou atrás em seguida. A data
coincide com a segunda etapa da avaliação de consultor legislativo do próprio
Senado.
Responsabilidade
Em meio a tantas denúncias, o Senado lavou as mãos.
Procurado, o órgão informou ontem que os problemas ocorridos são de
responsabilidade exclusiva da FGV. Ressaltou ainda que o apoio da PF à
realização do concurso já havia sido pedido pela própria casa legislativa, como
forma de garantir a segurança e evitar tentativas de fraude. Em nota, o
presidente da comissão do concurso, Davi Anjos Paiva, servidor do Senado, disse
que encaminhou documento à FGV pedindo celeridade nas providências destinadas à
reaplicação das provas para analista e enfermeiro. "Esclarecemos a todos
os candidatos das áreas que não foram afetadas que o calendário do concurso
público está integralmente mantido", disse. A FGV não se pronunciou sobre
a nota do Senado.
A troca das provas foi descoberta quando candidatos para a
área de análise de suporte de sistemas receberam caderno de provas referente ao
da área de análise de sistemas. Constatada a falha, verificou-se que não havia
material em número suficiente para área que eles escolheram. O mesmo aconteceu
com candidatos às vagas de enfermagem.
Com exceção das cerca de 300 pessoas das quatro salas da
Facitec que tiveram os cadernos errados recolhidos e foram mandadas embora, os
demais candidatos aos cargos cujas avaliações foram anuladas continuaram
respondendo as questões até o fim sem saber que o teste havia sido invalidado.
O analista de sistemas Elvis Teodoro só soube da anulação após concluir a
prova. "Isso é um absurdo. Eu me dediquei três meses ao concurso,
conciliando trabalho e estudo. Estou decepcionado. É humilhante",
desabafou. O servidor público Guilherme Ferraz, 31 anos, também se sentiu
prejudicado. "Faço concursos há anos e não é a primeira vez que vejo uma
prova ser anulada. Já percebi que o justo nem sempre é feito. Se disseram que
vão anular, não adianta esbravejar", lamentou.