domingo, 11 de março de 2012

Polícias legislativas na mira da Justiça



JOSIE JERONIMO

Correio Braziliense     -     11/03/2012





Ilegalidade da segurança do Senado e da Câmara dos Deputados apontada pela PGR cria brecha jurídica e coloca em xeque corporações de assembleias legislativas estaduais
O reconhecimento da ilegalidade parcial da Polícia Legislativa do Senado afetará também resoluções que criaram outras corporações, como a da Câmara e de assembleias estaduais. Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao parecer da Procuradoria-Geral da União (PGR) — que condenou a atuação judiciária do aparato de segurança do Senado – resultaram em  uma jurisprudência capaz de obrigar as duas Casas a reformarem as resoluções que criaram suas polícias particulares, dando aos servidores das Casas o poder de busca e apreensão, de investigação e abertura de inquérito. Na orientação da PGR ao Supremo, o parecer abrange a atuação das corporações das duas Casas. Assembleias legislativas que criaram institutos semelhantes também podem se enquadrar no critério de inconstitucionalidade.

A exemplo do Senado, a Câmara criou sua polícia legislativa com uma resolução, editada em 2003. A Casa também concede a seus seguranças particulares o direito a revista, busca e apreensão, investigação e formação de inquérito. Nos últimos cinco anos, as assembleias legislativas foram no encalço do Congresso e produziram resoluções transformando o departamento de segurança em polícias, as mais recentes de Rondônia e de Mato Grosso do Sul.

Na contracorrente da concessão de superpoderes a uma polícia paralela do legislativo, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB), acabou com o aparato da Casa assim que assumiu. A polícia legislativa da Assembleia do Paraná era formada por servidores comissionados escalados para as tarefas de proteção dos parlamentares e resolução de conflitos nas dependências da Casa. Rossoni substituiu a polícia legislativa pela militar, subordinando um comandante ao gabinete da Presidência da assembleia.

"Não tínhamos uma polícia, tínhamos uma quadrilha. Cobravam propina de quem queria para estacionar o carro, eu cheguei a ser agredido por seguranças, pois eles queriam garantir que não teria mudança. Tive que requerer efetivo militar para botá-los para fora. A nossa sorte é que eles não eram efetivos. Sou favorável à Polícia Militar, porque é treinada e disciplinada. O coronel que comanda o gabinete militar é subordinado a mim", afirma Rossoni.

Atribuições
No parecer tachativo da PGR sobre a inconstitucionalidade da Polícia do Senado, o argumento de que as polícias legislativas têm o objetivo de preservar a independência dos Três Poderes é derrubado. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a vice-procuradora Deborah Duprat assinam a recomendação alegando que a Polícia Legislativa do Senado carece de monitoramento do Ministério Público, da fiscalização a que outras polícias são submetidas, e reforçam que a colaboração entre os Poderes é um imperativo da Constituição.

"A atribuição de funções de polícia judiciária à polícia legislativa, por sua vez, tampouco é consequência implícita do arranjo de separação de Poderes. Basta ver que os crimes ocorridos no interior das casas legislativas, ou mesmo aqueles cometidos por deputados e senadores, são processados e julgados pelo Poder Judiciário", traz o parecer. Os procuradores afirmam que a leitura dos dispositivos legais indicam que a Polícia Federal é, com exclusividade, a "polícia judiciária da União."

Constitucionalidade
A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia é a relatora da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) encaminhada pela Mesa Diretora do Senado para formalizar a resolução que criou a polícia legislativa. A análise do ADC ainda não tem data, mas a tendência é de que após o voto de Cármen Lúcia a ação seja julgada definitivamente pelo plenário do Supremo, e não em decisão monocrática.

Não tínhamos uma polícia, tínhamos uma quadrilha. Cobravam propina de quem queria  estacionar o carro, eu cheguei a ser agredido por seguranças, pois eles queriam garantir que não teria mudança"

Valdir Rossoni (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa do Paraná



Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra