Silvio Ribas
Correio Braziliense - 12/04/2012
Os sucessivos episódios tristes envolvendo greves no serviço
público convidam todo o Brasil a uma reflexão. Como sugere o nome, servidores
têm a nobre missão de servir ao público, zelar pela dignidade e pelo bem-estar
de quase 200 milhões de brasileiros. Contudo, excessos do corporativismo em
áreas essenciais como saúde, educação e segurança colocam em xeque a
credibilidade dos contratados para cuidar de gente. E a maioria dos cidadãos,
que quase não tem alternativa aos serviços do Estado, sofre com impasses entre
gestores com mandato político e agentes estáveis da máquina pública.
Todos os trabalhadores precisam defender os seus sagrados
direitos, mas há protestos que os podem desonrar, levar a fatos intoleráveis e
estimular o caos. Tais situações ocorrem com mais destaque no Distrito Federal,
onde serviços públicos gozam, na média, dos melhores salários e recursos de
custeio.
Como explicar ao morador de outras regiões que 500 mil
estudantes estão há mais de um mês sem aula porque professores do GDF estão
insatisfeitos com salários iniciais, sem curso superior, de R$ 3,5 mil? É óbvio
que todos os educadores deveriam ganhar mais. Mas a indignação não explica crianças
pobres sozinhas em casa, sem merenda e expostas a riscos. Como se não bastasse,
ainda há retrato pior nesta unidade da Federação: a tropa policial mais bem
paga do país debochando da explosão de violência.
Se persistir nessa trilha amarga, o servidor mata o
profissionalismo e favorece seu maior pesadelo — a terceirização. O atual
avanço da classe média tornou a população consciente da pesada carga
tributária, semelhante à de nações servidas pelo mais generoso serviço público.
O povo cobra qualidade e não vai se solidarizar com ações que o coloca como
refém de interesses privados.
Quando um operário cruza braços tira lucros de empresa
privada. Quando um soldado faz corpo mole, um agente de saúde ignora o paciente
e um professor abandona seu aluno são vidas e futuros em jogo. Os servidores
deveriam ser a face humana do Estado que tem no cidadão seu cliente e patrão. É
hora de fixar regras para serviços movidos a dinheiro do público. Como ensinou
o grande líder sindical Lula, longas greves com salário não são lutas, mas
férias.