terça-feira, 12 de junho de 2012

Greve avança e problemas da expansão universitária preocupam autoridades



Luciano Máximo  
Valor Econômico     -    12/06/2012




São Paulo - A greve dos professores universitários federais do país entra hoje no 27º dia com uma média de 90% das atividades de graduação, pós-graduação e pesquisa paralisadas em 49 universidades e três institutos de tecnologia, de acordo com informações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

O movimento preocupa o governo, que "teme ver manchada" a expansão do setor que ocorre desde 2005, com a criação de 14 novas instituições e a ampliação de muitos campi existentes. Além da aprovação da reestruturação do plano de carreira da categoria, uma das principais reivindicações dos grevistas é melhorar as condições de trabalho nas novas unidades e naquelas que passaram por reformas.

A última greve da categoria, em 2005, coincide com os primeiros anúncios das novas universidades e obras de expansão. Agora, sete anos depois, os professores reclamam melhores condições de trabalho. "Nesse tempo todo estava se gestando uma situação delicada na categoria. As condições de trabalho não acompanharam a expansão: faltam bibliotecas, prédios, laboratório, professores em número adequado para a nova estrutura. O ambiente de aprendizado está comprometido", afirma Marina Barbosa, presidente do Andes.

Ela pondera que o processo de expansão não contabilizou o que o movimento grevista chama hoje de passivo profissional estrutural. "Nossa avaliação é que quando a expansão vem, traz muita novidade, novos cursos. Aí contrata-se o número de funcionários e professores para preencher a nova demanda, mas deixa um buraco nos programas existentes, que também receberam novos estudantes."

Aluno de história no campus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Diógenes Sousa não vai à aula desde o dia 4. Nas últimas semanas, os alunos aproveitaram a paralisação dos professores para protestar contra problemas de infraestrutura na unidade, que também passou por um processo de ampliação. "Construíram algumas salas e ampliaram laboratórios. Temos muitos livros encaixotados, porque não tem espaço na biblioteca", relata Sousa.

Em texto publicado ontem em seu site, o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, associa a greve com "a política de expansão acelerada". "Ela não obedeceu a nenhum plano ou avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo instituições aonde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem os edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos noturnos e contratar mais professores, mesmo quando não haviam candidatos qualificados, e sobretudo sem preparar as universidades para lidar com alunos que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados", avalia o pesquisador.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tem dito que cabe ao Ministério do Planejamento conduzir as negociações e considera a greve dos docentes é precipitada. O ministro defende os investimentos feitos nos últimos anos - criação de 220 mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos campi e R$ 8,4 bilhões em investimentos desde 2005.

Na tarde de hoje, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, recebe dirigentes dos três sindicatos envolvidos na greve - Andes, Proifes e Sinasefe. O governo só se posicionará após a reunião. A expectativa dos sindicalistas é que o governo apresente uma proposta de reestruturação para a carreira docente, dando início às negociações com os docentes federais.

"Nós queremos negociar, mas para que isso ocorra, o governo federal tem que apresentar propostas concretas sobre as quais possamos discutir e buscar uma solução positiva ao impasse estabelecido o mais rapidamente possível", disse Marina, dirigente do Andes.

Segundo ela, o acordo emergencial firmado com o governo em 2011 não foi cumprido e não aconteceram os avanços previstos para a conclusão dos trabalhos referente a reestruturação do plano de carreira no prazo estabelecido (31 de março). "Na última reunião antes da greve, em 15 de maio, o governo nos apresentou verbalmente alguns pontos, que eram a repetição da proposta apresentada em dezembro de 2010. Ou seja, as negociações não avançam", diz a sindicalista. A reestruturação prevê o estabelecimento de carreira única para todos os professores com 13 níveis salariais, com promoções a cada dois anos.

Ontem,o movimento foi engrossado com a convocação da greve dos técnicos administrativos da educação superior federal, que cruzaram os braços por mais de cem dias no ano passado por melhores salários.


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