Luciano Máximo
Valor Econômico - 12/06/2012
São Paulo - A greve dos professores universitários federais
do país entra hoje no 27º dia com uma média de 90% das atividades de graduação,
pós-graduação e pesquisa paralisadas em 49 universidades e três institutos de
tecnologia, de acordo com informações do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes).
O movimento preocupa o governo, que "teme ver
manchada" a expansão do setor que ocorre desde 2005, com a criação de 14
novas instituições e a ampliação de muitos campi existentes. Além da aprovação
da reestruturação do plano de carreira da categoria, uma das principais
reivindicações dos grevistas é melhorar as condições de trabalho nas novas
unidades e naquelas que passaram por reformas.
A última greve da categoria, em 2005, coincide com os
primeiros anúncios das novas universidades e obras de expansão. Agora, sete
anos depois, os professores reclamam melhores condições de trabalho.
"Nesse tempo todo estava se gestando uma situação delicada na categoria.
As condições de trabalho não acompanharam a expansão: faltam bibliotecas,
prédios, laboratório, professores em número adequado para a nova estrutura. O
ambiente de aprendizado está comprometido", afirma Marina Barbosa,
presidente do Andes.
Ela pondera que o processo de expansão não contabilizou o
que o movimento grevista chama hoje de passivo profissional estrutural.
"Nossa avaliação é que quando a expansão vem, traz muita novidade, novos
cursos. Aí contrata-se o número de funcionários e professores para preencher a
nova demanda, mas deixa um buraco nos programas existentes, que também
receberam novos estudantes."
Aluno de história no campus de Guarulhos da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), Diógenes Sousa não vai à aula desde o dia 4.
Nas últimas semanas, os alunos aproveitaram a paralisação dos professores para
protestar contra problemas de infraestrutura na unidade, que também passou por
um processo de ampliação. "Construíram algumas salas e ampliaram
laboratórios. Temos muitos livros encaixotados, porque não tem espaço na biblioteca",
relata Sousa.
Em texto publicado ontem em seu site, o sociólogo Simon
Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade,
associa a greve com "a política de expansão acelerada". "Ela não
obedeceu a nenhum plano ou avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo
instituições aonde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem os
edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos
noturnos e contratar mais professores, mesmo quando não haviam candidatos
qualificados, e sobretudo sem preparar as universidades para lidar com alunos
que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados", avalia o
pesquisador.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tem dito que
cabe ao Ministério do Planejamento conduzir as negociações e considera a greve
dos docentes é precipitada. O ministro defende os investimentos feitos nos
últimos anos - criação de 220 mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos
campi e R$ 8,4 bilhões em investimentos desde 2005.
Na tarde de hoje, o secretário de Relações do Trabalho do
Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, recebe dirigentes dos três
sindicatos envolvidos na greve - Andes, Proifes e Sinasefe. O governo só se
posicionará após a reunião. A expectativa dos sindicalistas é que o governo
apresente uma proposta de reestruturação para a carreira docente, dando início
às negociações com os docentes federais.
"Nós queremos negociar, mas para que isso ocorra, o
governo federal tem que apresentar propostas concretas sobre as quais possamos
discutir e buscar uma solução positiva ao impasse estabelecido o mais
rapidamente possível", disse Marina, dirigente do Andes.
Segundo ela, o acordo emergencial firmado com o governo em
2011 não foi cumprido e não aconteceram os avanços previstos para a conclusão
dos trabalhos referente a reestruturação do plano de carreira no prazo
estabelecido (31 de março). "Na última reunião antes da greve, em 15 de
maio, o governo nos apresentou verbalmente alguns pontos, que eram a repetição
da proposta apresentada em dezembro de 2010. Ou seja, as negociações não
avançam", diz a sindicalista. A reestruturação prevê o estabelecimento de
carreira única para todos os professores com 13 níveis salariais, com promoções
a cada dois anos.
Ontem,o movimento foi engrossado com a convocação da greve
dos técnicos administrativos da educação superior federal, que cruzaram os
braços por mais de cem dias no ano passado por melhores salários.