sexta-feira, 22 de junho de 2012

'Não é saudável para as contas públicas'



Gustavo Uribe
O Globo      -     22/06/2012




Para especialistas, fim do teto do funcionalismo traz risco para União, estados e municípios

SÃO PAULO . A proposta de emenda constitucional (PEC) que acaba com o corte de vencimentos de servidores públicos que ultrapassam o teto do funcionalismo, de R$ R$ 26,7 mil, é desastrosa e pode levar as administrações federal, estaduais e municipais a perder o controle das contas públicas. O alerta é feito por economistas e especialistas em finanças públicas entrevistados pelo GLOBO, que consideram o risco, caso a iniciativa seja aprovada pelo Congresso Nacional, de se produzir um efeito cascata no funcionalismo público. Com a disparada salarial, a avaliação dos analistas é que as categorias de servidores devem iniciar movimento por aumentos equivalentes, elevando os atuais vencimentos.

O consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento Raul Velloso avalia que o projeto de emenda abre espaço para "aumentos injustos" no setor público e considera difícil dimensionar o impacto da iniciativa para as contas públicas.

O analista econômico lembra que alguns servidores já apresentam "vencimentos gigantescos", que não são pagos integralmente graças à existência de um teto. Segundo ele, o modelo salarial ideal seria aquele que promovesse certa equivalência entre os salários pagos nas iniciativas pública e privada, eliminando atuais distorções.

- Essa proposta tem um efeito semelhante ao de abrir uma tampa de uma chaleira, que está prestes a explodir. Sem a tampa, no caso o teto salarial, haverá espaço para uma disparada dos vencimentos. Com a elevação, os demais servidores públicos vão pressionar por um aumento equivalente, em um efeito cascata - explica.

Ex-secretário de Finanças da prefeitura de São Paulo, Amir Khair considera a iniciativa desastrosa. Ele avalia que a proposta de emenda beneficiará apenas uma pequena parcela do funcionalismo público, cujos vencimentos são elevados e, em alguns casos, superiores aos pagos a cargos semelhantes no mercado de trabalho. Para ele, o parâmetro salarial do mercado de trabalho deve ser o parâmetro do Brasil.

- Se esse projeto passar no Congresso, é a sua desmoralização total. Quem tem o poder de fixar salários, dar reajustes ou não, é o titular do Poder Executivo. É necessário acabar com esse tipo de articulação entre os parlamentares e as entidades do funcionalismo. Quem paga os salários dos servidores públicos é a população. E, em geral, a população ganha menos que os servidores públicos - avalia.

Doutor em ciência econômica e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Francisco Luiz Cazeiro Lopreato avalia que a iniciativa traz grande risco para a saúde financeira das contas públicas e considera que alguns salários pagos no Legislativo e no Judiciário já são incompatíveis para a função.

- Não é uma regra saudável para as contas no setor público. Não há motivo para funcionários públicos chegarem a salários de R$ 40 mil a R$50 mil - afirma.


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