Agência Brasil
- 10/07/2012
Curitiba – Dirigentes sindicais que representam categorias
de servidores públicos federais em greve admitem que a ameaça feita pelo
governo federal na última semana de cortar o ponto de quem aderiu à paralisação
gerou apreensão entre parte dos trabalhadores, mas dizem acreditar que a medida
não irá se efetivar, por simples impossibilidade prática. Os trabalhadores
também estão se mobilizando contra a ameaça.
"Nosso sindicato avalia que o governo não vai fazer
isso [efetivar o corte do ponto], porque identificar quem está trabalhando e
quem está em greve é uma operação complexa, e restaria a alternativa de repetir
o que já fez o [ex-ministro da Educação] Paulo Renato, que cortou o salário de
todo mundo", disse à Agência Brasil a professora Nanci Stancki da Luz,
diretora da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná.
"As universidades simplesmente não têm como entregar o
ponto dos professores, que fazem um trabalho intelectual, de pesquisa, de
orientação de alunos", disse Luis Allan Künzle, presidente da Associação
dos Professores da Universidade Federal do Paraná.
Todos os dirigentes sindicais ouvidos pela Agência Brasil
foram unânimes em criticar a decisão de cortar o ponto, expedida na última
sexta-feira (6) pelo Ministério do Planejamento a todos os gestores de recursos
humanos do governo federal.
"O comando nacional da greve dos servidores
técnico-administrativos fez uma plenária e está orientando as bases a solicitar
a todos os reitores das universidades federais que se posicionem contra esse
desconto", afirmou Carla Cobalchini, presidenta do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana
e Litoral do Estado do Paraná (Sinditest-PR).
"A ameaça de corte de ponto gerou preocupação, mas a
nossa expectativa é radicalizar o movimento", afirmou a dirigente.
De acordo com os sindicatos ouvidos pela Agência Brasil,
nenhum servidor em greve voltou ao trabalho em decorrência do anúncio de corte
do ponto. "Nossa folha de pagamento fecha no próximo dia 19, e alguns
trabalhadores ficaram com algum receio", admite Alcides Gaboardi,
vice-presidente da Associação dos Servidores do Incra no Paraná (Assincra-PR).
"O governo está reprimindo o movimento e tentando cercear um direito
constitucional".
Na manhã desta terça-feira (10), servidores das
universidades federais, do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) fizeram uma nova passeata conjunta no centro de Curitiba. A
greve atinge 27 das 30 superintendências regionais do Incra e, no caso dos
professores, 58 das 59 universidades federais.
Os servidores do Ministério da Saúde em Curitiba aprovaram
uma paralisação de 48 horas, iniciada ontem (9). "No Paraná, todos os 39
servidores da área de auditoria do Sistema Único de Saúde, por exemplo, estarão
aptos a se aposentar ainda este ano", relatou à Agência Brasil o servidor
Jorge Oliveira.
Entre as reivindicações comuns às diversas categorias estão
reajuste salarial, novas contratações por concurso público e melhoria das
condições de trabalho.
O edifício da Reitoria da UFPR está ocupado por um grupo de
cerca de cem estudantes há uma semana, desde a noite do último dia 3. Os alunos
exigem o cumprimento de uma série de itens da pauta local de reivindicações,
entre eles melhoria das condições de acessibilidade para pessoas com
deficiência, ampliação da assistência estudantil, aquisição de mais livros para
as bibliotecas e melhorias na infraestrutura da universidade.
"Além da pauta local, nossa ocupação também tem um
caráter nacional, para pressionar o Ministério da Educação a negociar o fim da
greve", afirma a estudante Ana Paula Pereira, do curso de medicina da
UFPR. Uma reunião entre a administração da universidade e representantes dos
alunos, funcionários e professores está marcada para a tarde desta quarta-feira
(11).