Débora Diniz, Geralda Doca
O Globo - 27/07/2012
Paralisação no IBGE impede divulgação da taxa de desocupação
pela 1 vez em 20 anos
Pela primeira vez em 20 anos, a média nacional da Pesquisa
Mensal de Emprego (PME) deixou de ser divulgada pelo IBGE. Marcado para ontem,
o anúncio da pesquisa foi comprometido pela greve dos funcionários do órgão,
que não transmitiram os dados coletados no Rio de Janeiro para a análise. Com
isso, apenas o resultado das outras cinco regiões metropolitanas que compõem o
índice - Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre - foram
divulgados.
A paralisação começou em 18 de junho e, segundo o sindicato
da categoria, tem a adesão de 60% dos funcionários. No Rio, o movimento atingiu
em cheio a elaboração da PME, porque a maior parte do quadro de funcionários é
de efetivos, que aderiram à greve e não transmitiram os dados da região para
tabulação e análise. Nas demais regiões, o trabalho foi garantido por
servidores temporários.
- Os dados estão preservados e serão consolidados assim que
a paralisação for encerrada. Não haverá comprometimento da série histórica -
garantiu o diretor excecutivo do IBGE, Nuno Bittencourt, presidente interino do
órgão.
Os funcionários do IBGE reivindicam 22% de reajuste salarial
e a realização de concurso público para recompor o quadro funcional, hoje
formado por 6,6 mil concursados e 4,1 mil funcionários temporários. A única vez
em que os dados da PME deixaram de ser divulgados foi em 1992, quando a
categoria parou por mais de 60 dias. Como não havia quantidade suficiente de
temporários para garantir o trabalho, naquela ocasião os dados sequer foram
coletados na maior parte das regiões, interrompendo a série histórica.
- O trabalho vem sendo feito de forma precária e,
evidentemente, isso vai começar a gerar problemas na qualidade da informação ao
longo do tempo. Por isso, exigimos a realização do concurso - criticou Suzana
Drumond, diretora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE.
Os dados divulgados ontem mostram um quadro de estabilidade
do índice de desemprego em quatro das cinco regiões em que o levantamento foi
concluído. Na comparação com maio, a taxa de desocupação caiu apenas em Belo
Horizonte, chegando a 4,5% em junho ante 5,1% no mês anterior. Frente a junho
de 2011, houve queda de 2,3 pontos percentuais na taxa de desocupação em
Salvador, e estabilidade nas demais regiões.
Com base nos resultados apresentados ontem e nas principais
variáveis (emprego, desemprego e população economicamente ativa) do Rio de
Janeiro, a consultoria Tendências estimou em 5,8% a taxa de desocupação
nacional para o mês de junho, resultado que confirma o cenário de estabilidade.
O índice é igual ao divulgado em maio pelo IBGE e 0,4 ponto percentual abaixo
do registrado em junho do ano passado.
- O resultado é compatível com o cenário fraco de atividade.
O nível de emprego continua crescendo, mas há desaceleração. O fator positivo é
que a taxa de desemprego segue em um patamar baixo - ressaltou Rafael
Bacciotti, analista da Tendências.
Governo suspende negociações
O cenário de greves que impediu o anúncio do IBGE continua
em todo o país. O governo federal suspendeu as negociações com os sindicatos
dos funcionários públicos até o fim de agosto, data final para o envio da
proposta orçamentária de 2013 ao Congresso.
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça, disse ontem que já conhece as pautas de
reivindicação da categoria e somente voltará a se reunir com os dirigentes
sindicais quando ficarem prontas as estimativas de receitas e despesas para o
próximo ano. A expectativa inicial era fechar um acordo ainda neste mês:
- Estamos informando o adiamento às entidades. O prazo fatal
será o dia 31 de agosto - disse.
Ele admitiu que, com isso, a greve dos funcionários
públicos, que completou ontem 38 dias, pode se estender. Segundo estimativas da
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público (Condsef) e do sindicato da
categoria no Distrito Federal (Sindsep), cerca de 350 mil servidores cruzaram
os braços, incluindo os professores de universidades, parados há mais tempo.
Funcionam parcialmente 15 órgãos públicos, incluindo autarquias, ministérios e
as dez agências reguladoras.
A lentidão na máquina pública atinge desde o atendimento nos
hospitais do Sistema Único de Saúde até o comércio exterior. Os números da
balança comercial da terceira semana de julho mostram que houve queda de 10,5%
nas exportações médias diárias do mês ante todo o mês de julho de 2011. Com
relação a junho, os embarques médios diários caíram 2%. Nessa mesma comparação,
as importações estão 6,5% abaixo da média de julho de 2011.
A onda de greve no setor público, que ganhou recentemente
adeptos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit),
poderá também atingir as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Os 728 analistas de infraestrutura ameaçam engrossar o movimento. Para o
secretário do PAC, Maurício Muniz, a situação é preocupante e pode alterar
cronogramas:
- Estamos em um momento em que, para o país, é importante
realizar investimentos. Qualquer interferência no ritmo de execução das obras
preocupa, mas o governo tem a mesa de negociações aberta aos servidores.
Ao divulgar o balanço do PAC, a ministra do Planejamento,
Miriam Belchior, disse que o governo vai recorrer de decisão da 17ª Vara da
Justiça Federal, que determinou a suspensão do corte de ponto dos grevistas.
- A greve é um direito dos trabalhadores, desde que assumam
as consequências desse ato.
O presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das
Agências de Regulação, João Maria Medeiros, disse que as greves mostram que
falta habilidade ao governo para negociar.