Correio Braziliense
- 19/07/2012
Num cenário de desaquecimento da economia, sob graves
influências da crise internacional, a negociação salarial do funcionalismo
público federal está radicalizada. De um lado, o governo se nega a conceder
reajustes. De outro, pelo menos 350 mil profissionais cruzaram os braços.
Mais: vindos de diversas partes do país, servidores
começaram a montar acampamento no gramado central da Esplanada dos Ministérios
na última segunda-feira. Na manhã de ontem, juntaram-se aos de Brasília e, aos
milhares, bloquearam as seis faixas do Eixo Monumental no trecho entre a
Catedral e o Congresso Nacional; depois interditaram o outro lado, no sentido
Palácio do Planalto-Rodoviária.
A pressão é por aumentos que, segundo o Ministério do
Planejamento, custariam R$ 92,2 bilhões à União, elevando em 50% o custo atual
da folha de salários. Excessos são indesejados em quaisquer circunstâncias,
assim como bom-senso é imposição de toda hora. Se o momento de aperto
orçamentário, com a frustração de receitas, exige mais cautela, cabe às partes
entender as dificuldades para superar o impasse.
É o que vem ocorrendo na iniciativa privada. Não se vê greve
generalizada no setor, em que pesem os crescimentos da renda e da geração de
emprego refluírem, com as previsões de expansão econômica traçando curva
descendente, e os acordos fechados com os trabalhadores refletindo ganhos reais
menores em relação às datas-bases de 2011.
O ideal seria fazer justiça logo e zerar as defasagens
salariais de uma vez, mas a conjuntura respalda a preocupação maior com a
manutenção do nível de empregos e a recuperação do crescimento do PIB. Pior
ficará se o Estado parar, com prejuízos para toda a cadeia produtiva. Algumas
categorias públicas nem precisam cruzar os braços para atrapalhar os negócios.
Basta reduzirem o ritmo do trabalho, já aquém das necessidades — por exemplo,
no comércio internacional, com o emperramento de importações e exportações nas
alfândegas.
Sem reivindicações descabidas nem intransigências idem,
certamente será possível encontrar solução que contemple as necessidades do
governo e dos trabalhadores. Boa saída pode ser pôr de escanteio o imediatismo
e negociar num horizonte mais amplo. É o que vem sendo tentado com os docentes
das universidades federais.
A categoria está parada há dois meses e a resposta à
proposta governamental, que se estende até 2014, somente será conhecida na
segunda-feira. Mas pode prosperar. E tem a vantagem de valorizar os professores
com doutorado e dedicação exclusiva.
Por fim, o Congresso precisa regulamentar o direito de greve
do funcionalismo. Assegurada pela Constituição de 1988, a prerrogativa segue
pendente de regulamentação por lei que defina seus limites. Quanto ao governo,
não pode deixar que a situação fuja de controle. E é o que prenuncia o
crescimento do movimento paredista.
(Visão do Correio)