Caio Junqueira
Valor Econômico -
27/07/2012
Chinaglia: relação apaziguada até fevereiro, quando
lideranças serão trocadas
Brasília - Sem controle sobre o movimento sindical do
funcionalismo público, o PT perdeu poder de fogo em face da greve que atinge o
governo Dilma Rousseff.
Colabora ainda para isso a pulverização de sindicatos
ligados a outros partidos e a própria condição de ocupante do Palácio do
Planalto.
Embora a central ligada ao partido, a Central Única dos
Trabalhadores (CUT), tenha ampla margem favorável de sindicatos a ela
associadas -estima-se mais de 70% - a avaliação é que o sucesso da greve é, no
mínimo, compartilhado com a atuação de organizações ligadas a outros partidos.
Caso do PSTU, com o Conlutas, e o PCdoB, com a minoritária Central dos
Trabalhadores do Brasil (CTB).
As universidades federais, por exemplo, são controladas pelo
Fórum dos Professores de Instituições Federais do Ensino Superior (Proifes),
ligados à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef),
que, por sua vez, é vinculada à CUT.
Apesar disso, toda a greve que paralisa as 58 universidades
federais no país - algo inédito no governo petista- foi puxada pelo Sindicato
nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e pelo
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e
Tecnológica (Sinasefe), filiados ao Conlutas.
Houve Estados em que a direção dos professores ligadas ao
Proifes foi atropelada pelas instâncias controladas pelo Andes, como Bahia,
Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul. O único
Estado onde ainda não há greve é o Rio Grande do Norte, também controlada pelo
Proifes.
Em sindicatos das agências reguladoras ocorre uma divisão de
poder entre a CUT e a Conlutas. Na área da saúde, a CUT domina os comandos, mas
enfrenta resistências na base. Para piorar, o decreto publicado ontem pelo
governo em que determina a substituição dos servidores grevistas por estaduais
acabou por revoltar também as chamadas "carreiras de Estado", que
costumam ter posições mais independentes das orientações das centrais.
Para Wagner Gomes, presidente nacional da CTB, isso também
decorre da defasagem salarial. "A situação salarial é tão difícil que os
grevistas não estão mais acatando a orientação das centrais sindicais. As
lideranças não conseguem mais influenciar tanto e o rumo da greve independe do
comando superior", disse.
Somados todos os fatores, o resultado é um distanciamento do
PT da mesa de negociação. "Nossa atuação é procurar dialogar com petistas
do governo e dos sindicatos. O partido não tem que tentar impor uma posição a
ninguém. Não dialoga com a instância governamental, mas com os petistas que
atuam no governo. Não entra como ator político formal", disse Angelo
D"Agostini Junior, secretário sindical nacional do PT.
Segundo ele, o PT entende como natural haver conflitos nas
relações de trabalho que resultem em greve, embora avalie que o ideal é que
elas não sejam longas como a de agora. Também não vê mudanças entre Lula e
Dilma no tratamento dispensado aos servidores. "O que talvez tenha
acontecido é há muitas campanhas salariais ao mesmo tempo e momento econômico
leva a reivindicações maiores."
No movimento sindical, porém, a mudança não só foi notada
como determinante para que as três maiores centrais do funcionalismo federal se
unissem em 2011, após Dilma sinalizar que os tempos de reajustes polpudos da
era Lula tinham acabado.
"A construção da coletividade na greve foi
determinante. Tudo foi construído no fórum das entidades sindicais. Há muito
tempo que não nos somávamos. A unidade foi fundamental para furar a
instransigência do governo Dilma. Daqui para a frente vai ser assim. Mais
juntos e mais unidos", disse ao Valor o secretário-geral da Condsef,
Josemilton Costa, filiado ao PT.
Na sua avaliação, porém, sua entidade é "o carro-chefe
da greve e desvinculada do partido ou do governo". A ligação com a CUT
ajuda no sentido de que a central "articula encontros com o
secretário-geral da presidência Gilberto Carvalho e com a ministra do Planejamento,
Miriam Belchior". Também alerta que "não dá para virar as costas para
a apoiar outro partido que nunca esteve ao lado dos movimentos sociais".