quarta-feira, 25 de julho de 2012

Salário do servidor não justifica reajustes



O Globo     -     25/07/2012




 A economia brasileira vem crescendo a um ritmo moderado, e a perspectiva é que não haja uma mudança expressiva nessa trajetória enquanto perdurar a crise que atinge a zona do euro e outras regiões mais desenvolvidas. Esse ritmo de crescimento moderado já vem se refletindo no comportamento do emprego. Em junho, o número de novos postos de trabalho formais diminuiu 44% em relação a mesmo mês de 2011; no primeiro semestre, o recuo foi de 26%.

É de se esperar, então, que a arrecadação tributária também sofra uma queda no ritmo de crescimento, o que obrigará os entes públicos a serem mais cautelosos com suas despesas permanentes, pois não contam com a garantia de que terão receita assegurada para cobrir esses gastos. De acordo com dados da Receita Federal, a arrecadação no âmbito da União caiu 6,55% em comparação a igual mês de 2011. No primeiro semestre, a receita acumulada teve aumento real bem abaixo do registrado em períodos anteriores.

Para as finanças públicas, a folha de pagamentos é sempre uma das fontes de despesas para as quais os governantes precisam prestar mais atenção, pois é politicamente impossível ajustá-la em tempos de dificuldades ou crise. A legislação brasileira impede corte de salários nominais, e também não existe rotatividade no setor público semelhante ao que acontece na área privada. A possibilidade de dispensa de servidores por necessidade de ajuste na folha de pagamentos é hipótese remotíssima, embora admitida em lei.

Em 2012, o Orçamento Geral da União não previu aumentos lineares de salários para os servidores. Os reajustes de vencimentos que vêm sendo pagos no atual exercício estão relacionados a aumentos anteriormente autorizados, dentro de um programa de melhoria salarial de algumas categorias. A ponto de, em quase 90% das funções, servidores ganharem mais que seu equivalente na iniciativa privada.

Diante dos ganhos acumulados, a presidente Dilma Rousseff concordou com os argumentos de sua equipe de que não deveria haver reajustes lineares para os servidores em 2012. No entanto, ignorando a conjuntura econômica, há uma onda de greves atingindo serviços públicos e companhias estatais, com reivindicações que, se atendidas, poderiam representar uma despesa adicional de R$ 92 bilhões, o equivalente a 50% da folha de pagamentos no momento, segundo o Ministério do Planejamento. Para efeito de comparação, todo o investimento do governo federal nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento este ano não passará de R$ 42 bilhões.

De 2008 a 2012, somente na área do Poder Executivo federal, novos planos de carreira e restruturação de vencimentos geraram impacto adicional de R$ 35,2 bilhões na folha de pagamentos. Em todos os poderes da União, tanto a evolução da folha como a dos salários médios superaram por larga margem a inflação no período de 2003 a 2012. Para o conjunto dos servidores do Poder Executivo, o ganho real foi de 46,2% neste período, com uma despesa média de R$ 7.678 mensais por funcionário (ativo ou inativo). O governo não pode ignorar esse quadro nas negociações ora em curso. Se ceder, porá em risco o equilíbrio das finanças públicas, com reflexo sobre toda a economia, o que acabará atingindo os próprios servidores.


Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra