Marta Salomon e Tânia
Monteiro
O Estado de S. Paulo
- 09/07/2012
Às vésperas de enfrentar um acampamento de servidores
públicos na Esplanada dos Ministérios, mobilizados para uma greve geral do
funcionalismo, a presidente Dilma Rousseff pôs fim à lua de mel do governo com
a Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT. A
interlocutores, deixou claro que está mais preocupada com o controle dos gastos
públicos.
A principal orientação de Dilma Rousseff para lidar com as
reivindicações dos servidores - mobilizados pela CUT - é resistir às pressões
que elevem os gastos com pessoal, hoje em quase R$ 200 bilhões anuais. A
orientação é baseada na expectativa de um crescimento ainda menor da economia
neste ano.
"Por enquanto, não tem negociação, tem enrolação",
ataca o presidente da CUT, Artur Henrique. Depois de conversar com o
secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, principal interlocutor do
governo com os movimentos sociais, o presidente da central diz que não lhe
pediram moderação. "Ninguém seria louco de fazê-lo", diz Artur
Henrique.
Mudança de cenário. Ele contabiliza 248 greves de servidores
entre 2003 e 2010 para negar que a relação da CUT com o governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido tranquila, mas insiste que o
cenário mudou depois da posse de Dilma Rousseff, em janeiro de 2011.
Dados sobre gastos com o funcionalismo público mostram que a
folha de salários cresceu acima da inflação desde 1995, início do primeiro
governo Fernando Henrique Cardoso. O aumento foi maior a partir do primeiro
mandato de Lula. Em valores corrigidos pela inflação, o gasto com pessoal nos
três Poderes caiu em 2011 em relação ao ano anterior, calculou a ONG Contas
Abertas. Na proporção com o Produto Interno Bruto (PIB), os gastos com pessoal
vêm caindo desde 2010.
"Não dá para retroceder em relação aos oito anos de
governo Lula", reclama o presidente da CUT. "Não dá para esticar essa
corda", diz, cobrando uma resposta rápida do governo, o que, segundo ele,
poderia evitar uma greve geral dos servidores.
Lei orçamentária. O prazo para o envio ao Congresso da proposta
com a previsão de gastos para a correção dos salários em 2013 é 31 de agosto,
quando o governo formaliza o projeto de lei orçamentária para o ano que vem. O
governo insiste que não apresentará uma resposta aos sindicalistas antes do fim
do mês, como cobra a CUT e entidades sindicais filiadas à central.
Até lá, para a preocupação do governo, policiais federais e
auditores fiscais ameaçam aderir ao movimento, iniciado há quase dois meses
pelos professores universitários, e que já envolve servidores de 26 setores em
22 Estados e no Distrito Federal. Um acampamento na Esplanada está marcado para
ocorrer entre os dias 16 e 20.
O governo tenta conter a tensão com os servidores, pelo
menos até o governo encontrar uma contraproposta aos funcionários que já
pararam ou ameaçam cruzar os braços, provavelmente envolvendo acenos para 2014,
último ano de mandato da presidente. Militares são tratados como um capítulo à
parte.
"Estamos diante de um jogo de xadrez bem complexo, em
que o movimento de um peão pode pôr em risco a posição do rei: quando movermos
uma peça, temos de saber o impacto em todo o tabuleiro", compara o
economista Sérgio Mendonça, secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Planejamento. Ele coordena a mesa permanente de negociação há quatro meses.
Na sexta-feira, o Planejamento determinou o corte do ponto
dos funcionários grevistas. Os reitores das universidades têm reunião marcada
para quarta-feira em Brasília para decidir se levarão adiante o desconto nos
salários dos professores, há mais de um mês em greve. "A orientação para
todas as áreas é fazer o desconto dos salários, mas as universidades têm
autonomia para fazer isso", pondera o secretário, preocupado em não azedar
a relação com o movimento sindical.
Mendonça reconhece que a principal fonte de pressão ao
governo é a CUT e a capacidade de mobilizar uma greve geral. "Vemos isso
com naturalidade, a CUT tem o papel dela, é legítimo que pressione",
pondera o secretário. "É até bom para o governo que a CUT mantenha sua
independência."
"Cada um faz o seu papel", avança o sindicalista
Manoel Messias, ex-secretário da central recém-nomeado secretário de Relações
de Trabalho do Ministério do Trabalho.
Setor privado. Artur Henrique, da CUT, prevê um segundo
semestre de greves também no setor privado, sobretudo de bancários e
trabalhadores da construção civil, setores econômicos atualmente mais
aquecidos.
Para se antecipar a greves de trabalhadores da construção
civil - paralisação que tem efeito direto nos canteiros de obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) -, o governo vem mantendo conversas com
sindicatos de patrões e empregados do setor.