domingo, 26 de agosto de 2012

Ganho de 42,7% acima da inflação em 17 anos


Ana D’ Angelo
Correio Braziliense      -      26/08/2012 





Na guerra de números entre grevistas e governo, o Planalto apresenta a seu favor o dado de que os funcionários das carreiras de Estado tiveram aumento salarial acima da inflação. A média foi de 42,7%. O máximo chegou a 50,3%.

Remuneração média dos servidores do Executivo Federal cresceu 391% desde 1995 enquanto o IPCA do período ficou em 244%

Com remuneração média acima da que é paga pela iniciativa privada e com vantagens exclusivas, como estabilidade no emprego, aposentadoria integral equivalente ao último salário e possibilidade de alcançar o topo da carreira em até 20 anos de trabalho, servidores públicos federais ignoram a desindexação da economia e exigem reposição da inflação passada, alegando até mesmo perdas da década anterior. 


A reestruturação das carreiras entre 2008 e 2010, que resultou em aumentos reais nos últimos anos, não foi considerada suficiente, na avaliação das categorias grevistas, porque haveria perdas do período do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, que manteve os salários congelados.

Não é o que revela levantamento feito pelo Correio a partir de dados do Ministério do Planejamento. Os trabalhadores das carreiras da chamada elite do Executivo, que o governo da presidente Dilma Rousseff classifica como "sangues azuis", tiveram aumento acima da inflação desde 1995, mesmo considerando a inflação até julho deste ano. 


É o caso dos funcionários do Itamaraty, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal, que estão em greve. Os servidores do ciclo de gestão, para o qual não é exigida qualquer experiência, com salário inicial de R$ 13,6 mil e final de R$ 18,5 mil, foram os que tiveram maiores aumentos no período, entre 379% e 417%.

A inflação de janeiro de 1995 a julho de 2012, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 244%. Já a média da remuneração do Executivo cresceu bem mais, 391% no período — ganho real de 42,7%. As do Judiciário e do Legislativo tiveram expansão nomianal de 300% e 325%, respectivamente, ou 16,3% e 23,5% acima da inflação. Isso ocorreu mesmo partindo de uma base já elevada em 1995. O vencimento médio era, naquela época, três vezes maior que o do Executivo.


Dieese aponta disparidade
O desempenho do setor público não foi alcançado por nenhuma categoria da iniciativa privada nesse mesmo período. Pelo contrário. Nos 18 anos de Plano Real e de estabilidade econômica, boa parte dos empregados das empresas teve dificuldades para negociar a reposição da inflação, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Empresas com aumento real significativo na remuneração média nesse período são exceções.


Devido às diversas crises econômicas e à alta do desemprego no período, esses trabalhadores enfrentaram demissões em massa, congelamento de promoções e de melhora da remuneração e dos benefícios, limitando o crescimento dos valores recebidos na era do Real, à exceção de quem ganha salário mínimo, que é fixado pelo governo. A situação foi mais grave na indústria, que tem as melhores remunerações.


Sem estabilidade e garantia de progressão automática na carreira para receber remunerações maiores, como ocorre no serviço público, os assalariados das empresas privadas que conseguiram ascensão profissional e salário mais alto tiveram que fazer um intenso aperfeiçoamento e enfrentar a concorrência no mercado na disputa dos melhores cargos.


"Esse é o ponto. Não há indicadores de eficiência no serviço público como na iniciativa privada. Não dá para ter sempre reposição da inflação nos salários, aumentando o custo da máquina administrativa. São necessários outros parâmetros, respeitando um teto e as especificidades e as exigências de cada carreira", critica o economista-chefe da agência de classificação de risco internacional Austin Rating, Alex Agostini. "Um engenheiro nuclear não pode ganhar o mesmo que um técnico de segurança no trabalho", acrescenta.


O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, aponta a falta de uma política de remuneração como a causa dessas constantes greves e dos reajustes descontrolados, que só aumentam o custo da máquina, sem correspondência com eficiência e produtividade. "O problema é que não existe uma referência qualquer que seja para os salários do setor público, nem entre as próprias carreiras, o que gera essa disputa constante também entre elas", constata Velloso.



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