Priscilla Oliveira e Vera Batista
Correio Braziliense
- 21/08/2012
Proibidos de fazer operação-padrão, policiais federais
fecham acesso ao terminal de embarque do aeroporto de Brasília. Na UnB,
professores inconformados com o fim da paralisação querem voltar a cruzar os
braços
Em mais um dia de queda de braço, o governo divulgou os
primeiros contracheques com corte de ponto, e grevistas deram novas
demonstrações de força. Principalmente, os policiais federais. Eles voltaram a
complicar a vida de passageiros em aeroportos país afora, ao bloquear
momentaneamente o acesso a terminais de embarque. Hoje, planejam acender uma
fogueira gigante em frente ao Palácio do Planalto.
Na Universidade de Brasília, a paralisação encerrada na semana passada pode ser retomada na sexta-feira. É de guerra o clima entre professores. E, no meio dessa confusão toda, há ainda uma eleição para reitor da UnB, amanhã e quinta-feira, que alunos em greve tentam adiar. Por causa do impasse, a definição do calendário letivo foi suspensa.
Na Universidade de Brasília, a paralisação encerrada na semana passada pode ser retomada na sexta-feira. É de guerra o clima entre professores. E, no meio dessa confusão toda, há ainda uma eleição para reitor da UnB, amanhã e quinta-feira, que alunos em greve tentam adiar. Por causa do impasse, a definição do calendário letivo foi suspensa.
Sem fiscalização nas fronteiras, ministro determina que
policiais sejam punidos. Contracheque com desconto dos dias parados já está na
internet
No dia em que os servidores públicos em greve tiveram acesso
a seus contracheques de agosto com registro prévio do desconto dos dias
parados, policiais federais intensificaram os protestos em aeroportos e
fronteiras, causandos transtornos à população.
Na Ponte da Amizade, que une Foz do Iguaçu (PR) a Ciudad del
Este, no Paraguai, os policiais federais promoveram a "Operação Sem Padrão",
deixando de fiscalizar os veículos que vinham do país vizinho. O nome da
operação, irônico, foi uma resposta à decisão do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) de proibir em portos, aeroportos e rodovias a chamada
"Operação-Padrão", em que os agentes públicos apertam a fiscalização
para provocar fila e congestionamento.
A tréplica do governo veio na forma de um memorando enviado
ontem pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao diretor-geral da
Polícia Federal (PF), Leandro Daiello. Ele determina que os policiais que não
trabalharam na fronteira entre o Brasil e o Paraguai ontem tenham o dia
descontado e, mais importante, que os órgãos corregedores da PF apurem se houve
atos ilícitos no protesto pela "ausência deliberada a prestação de atividades
funcionais nos padrões de normalidade exigidas".
Cardozo mandou essa ordem ser reproduzida a todas as chefias
da PF no país, para que a mesma punição seja aplicada em casos semelhantes.
Exigiu também ser informado por meio de "relatório detalhado" sobre a
apuração do que houve na Ponte da Amizade e das penalidades.
Em São Paulo, o assessor especial da Secretaria-Geral da
Presidência da República José Lopez Feijóo, ex-vice presidente da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), afirmou que o foco da presidente Dilma Rousseff
"é fazer a economia andar para que aqueles que não têm estabilidade não
percam seu emprego em função da crise". Ele reforçou a posição anunciada
pela presidente há 10 dias em visita a Minas Gerais. E avisou: "A
presidente Dilma não é refém de nenhum sindicato". Ressalvou que faz parte
da democracia que as organizações sindicais "lutem pelo que achem que é
correto".
Mãos atadas
Em Brasília, policiais federais planejam para hoje uma
fogueira na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. Ontem,
cerca de 400 deles tomaram a via que dá acesso ao Aeroporto JK por volta das
17h em uma caminhada carregando faixas até o terminal de embarque. Impediram,
com isso, o acesso dos motoristas que pretendiam deixar passageiros. Após
cantarem o hino da polícia, os grevistas ocuparam todo o saguão do aeroporto
com as mãos atadas por fitas pretas e ficaram em silêncio.
Alguns líderes dos grevistas chegaram a cogitar a volta da Operação-Padrão, mesmo sob pena de uma multa diária de R$ 200 mil. Mas voltaram atrás. A cena dos policiais de mãos atadas se repetiu em diversos estados. No aeroporto de Salvador, carregaram faixas mostrando o resultado da operação-padrão realizada na última quinta-feira.
Alguns líderes dos grevistas chegaram a cogitar a volta da Operação-Padrão, mesmo sob pena de uma multa diária de R$ 200 mil. Mas voltaram atrás. A cena dos policiais de mãos atadas se repetiu em diversos estados. No aeroporto de Salvador, carregaram faixas mostrando o resultado da operação-padrão realizada na última quinta-feira.
Está marcada para hoje à noite uma nova reunião com o
secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça. Os policiais afirmam, entretanto, que não têm
esperanças de que as negociações deem resultado, já que, segundo a Fenapef,
"os policiais federais negociam com o governo há mais de dois anos e
aguardavam o desfecho dessas negociações na semana passada, o que não
ocorreu". Com isso, os sindicatos estaduais prometem manter as
manifestações nos estados nesta terça-feira.
Os policiais estão em greve desde 7 de agosto. A categoria,
composta por agentes, escrivães e papiloscopistas, pede que os salários sejam equiparados com os de
servidores de outras carreiras de Estado, como os fiscais da Receita Federal.
O corte de ponto é contestado pelos policiais e pelas outras
categorias em greve. A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço
Público Federal (Condsef) entrará hoje na Justiça com uma ação preventiva
contra o desconto aos grevistas. Argumentam que há funcionários que não têm
como se alimentar ou pagar as contas.
"Vamos impedir a ilegalidade do corte integral dos dias
parados. O governo quebrou as regras. No passado, o desconto era de sete dias.
O trabalhador tinha um paliativo de 23 dias para viver. A presidente Dilma, se
quiser, pode reverter a medida até o dia 25 ou no mínimo manter os sete
dias", explicou Josemilton Costa, secretário-geral da Condsef. Ao fazer um
balanço geral sobre o resultado das reuniões com o secretário de Relações do
Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, Costa disse que
nenhuma categoria aceitou a proposta. O aumento de 15,8%, dividido em três
anos, foi rejeitado e a greve vai continuar.
Os líderes dos grevistas rejeitam um compromisso que só
permita o retorno das discussões em 2016. "Querem evitar greves durante
eleições e a Copa do Mundo. Na verdade, o governo está nos fazendo uma ameaça.
Privatiza estradas e ferrovias e finge não entender que o trabalhador bem
remunerado é mais eficiente", assinalou Reginaldo Aguiar, diretor nacional
da Confederação Nacional dos Servidores do Incra/MDA. Todas as categorias
continuam insatisfeitas e remarcaram reuniões com o secretário Sérgio Mendonça.