sábado, 11 de agosto de 2012

Governo se afasta de sindicatos


Correio Braziliense     -     11/08/2012




O rompimento do diálogo com as Centrais e o desaparelhamento do meio sindical no governo da presidente Dilma Rousseff levaram à explosão das greves nos diversos setores do funcionalismo público federal. Trinta categorias do Executivo e servidores do Judiciário de pelo menos quatro estados cruzaram os braços para pressionar o Palácio do Planalto por reajustes. Dilma, contudo, mantém-se impassível e dá sinais de que não cederá, preocupada com a crise econômica internacional. "Esse governo não é politiqueiro, não vai agir pensando apenas na base política e na sindical", disse ao Correio um aliado da presidente.

O embate encerrou uma trégua que o Planalto tinha com as centrais sindicais, construída, sobretudo, ao longo do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo do mensalão, o ex-presidente reatou os laços com os sindicalistas, principalmente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que foi às ruas defendê-lo durante o episódio. Lula chamou Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e atual prefeito de São Bernardo, para assumir pastas na Esplanada — primeiro, o Ministério do Trabalho e, depois, o da Previdência.

O petista também entregou o Ministério do Trabalho ao PDT, ligado à Força Sindical. O ministro Carlos Lupi resistiu 12 meses no cargo, mas acabou substituído por Brizola Neto (PDT-RJ), que pediu a bênção dos sindicalistas antes de assumir o posto. Mas a gestão de Brizolinha, até o momento, é inócua. Na atual greve do funcionalismo, o balcão de negociações passa longe da pasta comandada pelo pedetista: está concentrada no Ministério do Planejamento, comandado por Miriam Belchior.

A CUT também perdeu seus interlocutores com o Planalto, e a relação entre a atual direção da entidade e Dilma é tensa. Vagner Freitas, originário do sindicato dos bancários, é visto pelo governo como alguém que "pretende marcar posição perante a base" e que, por isso, adota uma postura mais radical e menos aberta ao diálogo que seu antecessor, Artur Henrique. "É natural que aja assim, pois ele acabou de assumir o cargo de presidente da Central e teme perder a base política ante os seus comandados", defendeu um aliado de Dilma que conhece o funcionamento da máquina sindical.

Relação difícil

No ano passado, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, promoveu encontros para debater o valor do novo salário mínimo e para tentar impedir as greves nas Usinas de Jirau e Santo Antônio, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Agora, ele está afastado das negociações. Apesar disso, fontes palacianas ouvidas pelo Correio garantiram que Carvalho não está desprestigiado e justificaram que o contato dele com as centrais resume-se às negociações envolvendo o setor privado. Conversas sobre reajustes salariais do funcionalismo precisam ser conduzidas pelo Ministério do Planejamento.

Os sindicalistas nunca esconderam que a relação com o ex-presidente Lula era muito mais fácil e transparente. "Ele sabia que eu nunca havia votado nele para presidente da República. Mas sempre me chamou para "tomar uma" na casa dele e discutir política", contou o presidente da Força Sindical e candidato do PDT à prefeitura de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

Com Dilma, as coisas são diferentes. "Ela exagerou ao editar um decreto permitindo a substituição dos servidores de braços cruzados nos portos por trabalhadores públicos estaduais", criticou um especialista em movimento sindical. Essa quebra de confiança fez com que as categorias antecipassem o movimento grevista. Como existe uma trava legal impedindo a concessão de qualquer reajuste que não esteja previsto na Lei Orçamentárias, que será encaminhada ao Congresso até 31 de agosto, os servidores estão receosos que se repeta o cenário do ano passado, quando esperaram um sinal positivo do governo e ficaram sem os reajustes pretendidos.

Descontente

Em visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última segunda-feira, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo — onde ele fazia exames de rotina por causa do câncer que teve —, a presidente Dilma Rousseff expressou seu descontentamento com a CUT. Lula, ao seu estilo conciliador, chegou a pedir que ela fosse mais flexível nas negociações, mas Dilma mantém-se irredutível em sua posição, sobretudo porque defende que esse é o momento de investir no setor privado para poupar o emprego e, consequentemente, a economia nacional. Tanto é que desautorizou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, como interlocutor das Centrais, função que a pasta sempre exerceu, e transferiu a missão para o Ministério do Planejamento.



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