Correio Braziliense
- 09/08/2012
Greve, paralisação ou operação padrão, seja sob qual for a
denominação do movimento, servidores públicos cruzam os braços em efeito dominó
país afora, engessando o Estado. Vinte e seis carreiras de 35 órgãos já
aderiram, e nenhuma ação governamental concreta, articulada, com poder real de
enfrentamento do gigantesco problema é vista no horizonte, salvo iniciativas
isoladas.
A sensação de impotência, com poderes da República reféns
dos próprios funcionários, cresce na mesma proporção em que prejuízos se
disseminam, atingindo desde o aluno de instituição pública de ensino superior,
há mais de 80 dias sem aula, às exportações e importações, à pesquisa nacional,
à elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA).
Urge encontrar solução que resgate o país da barafunda em
que vai se metendo. Não se vê crise semelhante na iniciativa privada, que
estudos mostram pagar salários menores e oferecer menos vantagens. Por que,
então, justamente quem deveria estar mais satisfeito (ou menos insatisfeito,
que seja) põe o patrão — e a sociedade, que, no fundo, lhe banca a remuneração
e conta com os serviços do Estado — contra a parede? Por desfrutar do
privilégio da estabilidade no emprego, de direito de greve que espera por
regulamentação há quase um quarto de século, pela comodidade de não ter os dias
parados descontados no contracheque? Essas questões exigem resposta, mas não
explicam toda a questão.
Falta ao Estado brasileiro plano de cargos e salários
global, transparente, justo, que valorize o profissional e garanta ao servidor
a perspectiva de carreira sólida, com paridade entre funções semelhantes,
esteja ele empregado (independência não é sinônimo de incoerência) no
Executivo, no Legislativo ou no Judiciário.
Aliás, a reestruturação de carreiras é reivindicação comum a
vários movimentos paredistas desencadeados pelo país. Sem uma política salarial
de longo prazo, que compense defasagens e corrija distorções, com sistema
periódico de avaliação que privilegie a meritocracia, os conflitos tendem a se
agravar e a se eternizar. Pior ainda se faltam canais de negociação permanente
com os sindicatos das categorias.
O Estado e as entidades sindicais precisam construir diálogo
capaz de revolucionar a máquina pública, cuja fama perante a população é de
perdulária e ineficiente. Estranhamente, contudo, enquanto as paralisações
crescem, os ânimos se exaltam e o cidadão e empresas se veem privados de
serviços básicos, as negociações são mantidas em compasso de espera. Falta
bom-senso de ambos os lados. Segundo o governo, as reivindicações, somadas,
representam para o erário impacto superior a
R$ 90 bilhões, o equivalente à metade do gasto atual com a
folha de pagamento do funcionalismo federal. Se pedir tanto é uma insensatez,
atender a tal anseio não seria menos insensato. A conversa apenas terá chance
de prosperar se contida no plano da realidade.
Visão do Correio