Vera Batista
Correio Braziliense
- 23/08/2012
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Carlos Ayres Britto, já começou a se movimentar para convencer a presidente
Dilma Rousseff a conceder o mesmo reajuste oferecido aos servidores do
Executivo para seus subordinados do Judiciário. Ao que parece, o ministro teve
sucesso com a presidente, apesar das duras palavras que ela vem dirigindo
contra os que chama de funcionários de “sangue azul”, privilegiados com altos
salários.
Mas não com a categoria em greve. A proposta de aumento de
15,8%, dividido em três anos, até 2015, foi apresentada na terça-feira, durante
reunião com líderes do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do
Ministério Público da União no Distrito Federal (Sindjus). E imediatamente rejeitada,
por unanimidade.
“Esse percentual não atende às nossas expectativas. O que
queremos é que o ministro atravesse a Praça dos Três Poderes e vá falar com
Dilma, como fez a ministra Ellen Gracie com Lula, em 2006”, disse Ana Paula
Cusinato, diretora do Sindjus. “Queremos que ele insista para ela respeitar a
Constituição e manter inteira a proposta orçamentária do Judiciário. Sem
cortes, a exemplo de 2011”, completou.
Segundo a sindicalista, Ayres Britto prometeu ir ao Palácio
do Planalto até o próximo dia 31, quando termina o prazo de entrega do
Orçamento da União para 2013 ao Congresso Nacional. A data da conversa com
Dilma, no entanto, não foi divulgada. Os sindicalistas não abrem mão da
aprovação do Projeto de Lei 6.613/2009, em tramitação na Câmara dos Deputados
há dois anos, que institui o plano de carreira da categoria, o PCCR. De acordo
com o Sindjus, o impacto na folha de pagamento seria de quase R$ 8 bilhões
anuais, mas, para que os aumentos previstos no plano sejam garantidos em 2013,
os recursos precisam estar previstos na lei orçamentária.
Os trabalhadores aplaudem o empenho do ministro, mas afirmam
que se cansaram de muito discurso, pouca ação e nenhum resultado prático da
negociação que vem sendo levada a cabo até agora entre as áreas técnicas do
Judiciário e do Executivo.
Endurecimento
No ano passado, o sindicato entrou no Supremo com Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO nº 18) para garantir o aumento
da categoria. O relator, ministro Joaquim Barbosa, já deu o seu voto. “Só falta
o plenário. Queremos esse julgamento, porque é a forma de impedir que a
presidente rasgue a lei”, pontuou.
Caso as negociações não avancem, as lideranças já se
preparam para endurecer a greve. Ontem, dirigentes do Sindjus tiveram reuniões
com trabalhadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da Justiça Federal, do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e das Varas
Trabalhistas. “Tenho certeza de que ganhamos a adesão de mais de 50% daqueles
que estavam fora do movimento. Só sairemos da greve com uma proposta fechada”,
assinalou Ana Paula.