Tânia Monteiro, Débora Álvares e Rafael Moraes Moura
O Estado de S. Paulo
- 09/08/2012
Com protestos pelo País, equipe de Dilma diz que pode
atender a parte das reivindicações; Palácio foi alvo de manifestação e
ministro, de vaia
BRASÍLIA - Acuado por
parte do funcionalismo público em greve, o governo desencadeou uma operação
para esvaziar o movimento, que ontem se espalhou por vários Estados, expôs um
ministro do núcleo próximo da presidente Dilma Rousseff a vaias e levou o
conflito para as portas do Palácio do Planalto. Após um dia de manifestações
pelo País, o governo sinalizou que vai atender a pelo menos parte das
reivindicações. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o
governo ainda está finalizando as contas para ver que tipo de reajuste será
possível apresentar aos servidores que estão em operação-padrão ou de braços
cruzados.
“Preferimos uma análise mais detida para apresentar uma proposta
responsável aos servidores”, declarou a ministra, depois de repetir o discurso do
governo sobre as dificuldades em consequência da crise econômica internacional.
“Iniciamos o ano com uma perspectiva melhor do que ocorreria com a economia. Em
maio, junho, o que se viu foi um cenário nublado, muito difícil, que fez com
que o governo tivesse de refazer suas contas.” Segundo Miriam, “a posição do
governo é de absoluta atenção ”em relação aos serviços afetados pelas greves.
“Precisamos garantir que os serviços sejam prestados, para que não haja
paralisia nas instituições, como nos portos, para evitar qualquer
comprometimento na prestação dos serviços.
Vaias. Um dos interlocutores mais próximos de Dilma, o
ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) foi recebido com vaias e teve o
discurso interrompido várias vezes ao abrir a Conferência Nacional de Emprego e
Trabalho Decente, em Brasília. “Este é um governo que tem responsabilidade, que
o tempo todo dialogou e em nenhum momento foi dito que não haveria proposta
para os trabalhadores. O que não faremos são atos de demagogia, que podem pôr em
risco a economia do País”, discursou Carvalho. sob vaias de servidores.
“Lamento profundamente e espero que as centrais sindicais, com quem dialogamos
e com quem temos uma relação tensa, mas cordata, chame a atenção desse setor
que se nega ao diálogo.” O ministro foi recebido aos gritos de “pelego” e
“traidor” por parte do público, que também entoou em coro: “A greve continua,
Dilma, a culpa é sua”. Em outro evento– o anúncio do Plano Nacional de Gestão
de Riscos e Resposta a Desastres Naturais –, servidores exibiram faixas com os
dizeres: “Dilma, me chama de Copa do Mundo e investe em mim” e “Será possível
um ‘Brasil sem Miséria’ sem serviços públicos de qualidade?”
Balanço. Segundo a Confederação dos Trabalhadores do Serviço
Público Federal, que representa 80% do funcionalismo, cerca de 350 mil
servidores de 26 categorias aderiram à greve.
Policiais federais, que hoje
completam três dias de paralisação, organizaram protestos em rodovias e
operações-padrão em aeroportos. Uma carreata em Brasília travou a Esplanada dos
Ministérios ontem à tarde e teve apoio até de policiais do Distrito Federal.
Com a pressão, as categorias foram recebidas pelo ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, e pelo secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça, em reuniões separadas, para tentar acalmar os
ânimos. Ainda assim, Brasília terá mais protestos. Hoje, uma marcha pela manhã
deve interditar de novo a Esplanada. Na semana que vem, está previsto um
acampamento em frente ao Congresso.