Luciano Máximo
Valor Econômico -
31/08/2012
São Paulo - Enquanto a greve de 35 categorias dos servidores
da União encaminha-se para um fim, com o acordo em torno de um reajuste nominal
de 15,8% em três anos, professores das universidades federais mantêm o
confronto com o governo e a paralisação em 52 de 59 instituições supera cem
dias. Mesmo com proposta de aumento salarial bem superior à do restante do
funcionalismo - reajuste nominal entre 25% e 41% até 2015 -, os docentes
reclamam que a proposta do governo beneficia uma minoria de professores
titulares, que detêm os salários mais altos do magistério.
Dos mais de 105 mil professores da ativa e aposentados, os
menos de 10 mil titulares, cujo salário inicial atual é de R$ 12,2 mil,
obtiveram reajuste de cerca de 40% dividido em três anos - percentual que
garante um contracheque de R$ 17 mil a partir de 2015, já considerado o
reajuste de 4% concedido em março deste ano. Os professores-adjuntos, que são
56% dos acadêmicos, ativos e inativos, tiveram aumento médio de 31%: o salário
inicial dos classificados como adjunto nível 1 com dedicação exclusiva passará
de R$ 7,6 mil para R$ 10 mil. Grupos menos expressivos (associados, assistentes
e auxiliares) terão reajustes nominais entre 27% e 150% até 2015, conforme
dados compilados pelo economista mineiro Fernando Duca.
Maxmiliano Menz, professor-adjunto de história da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pondera que seu salário, de R$ 7,6
mil, é bom na comparação com a média da população brasileira, mas
insatisfatório tendo em vista outras carreiras públicas. "Tenho 37 anos e
vou levar muito tempo para chegar ao topo da carreira. O reajuste do governo é
meio enganador, porque incide principalmente sobre os setores mais altos da
carreira. A jogada foi apresentar o maior aumento na carreira que não pesa
tanto no orçamento", opina Menz, que deu apenas duas aulas no primeiro
semestre no campus da Unifesp em Guarulhos.
Na opinião de Catarina de Almeida Santos, docente da
Universidade Nacional de Brasília (UnB), enquadrada na mesma situação salarial
que o colega paulista, a decisão do governo de não fixar um percentual do
salário-base para estabelecer a gratificação por titulação motivou os
professores a manter a greve. "A proposta é um valor fixo. Sem um
percentual definido, os professores não têm como saber como será a progressão
na carreira, ficaremos na mão do governo."
A docente refere-se ao cálculo da gratificação por titulação
em relação ao vencimento básico, uma das principais reivindicações do Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
A entidade
defende, por exemplo, que a bonificação por um título de doutorado seja de 75%
do salário-base na composição da remuneração bruta. O governo estipulou valor
fixo para cada faixa profissional.
Além desses dois pontos, considerados os mais importantes
pelos trabalhadores, o Andes reivindica férias de 45 dias por ano, revisão do
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (Reuni) e garantia de que o professor se aposente com o maior salário
da carreira. "Nesses tópicos o governo sequer se manifestou, por isso
vamos continuar em greve", afirmou Almir Menezes Filho, do Andes.
Eduardo Rolim, presidente do Fórum dos Professores de
Instituições Federais do Ensino Superior (Proifes), sindicato que aceitou a proposta
do governo, diz que o Andes politiza a greve. "É uma situação confortável.
O reajuste é o melhor e já está dado, os professores não vão perdê-lo. O Andes
é controlado pelo Conlutas e está pressionando o governo."
Em nota, o Ministério da Educação respondeu que as propostas
de reajuste do governo priorizam o avanço na carreira de acordo com a qualidade
acadêmica e os profissionais com dedicação exclusiva. Além disso, diz a pasta,
a expansão das universidades foi feita em parceria com cada instituição.
"Querem remuneração sem titulação e progressão só pelo tempo e que ainda
atinja aposentados. O governo sustenta sua proposta."
Hoje os grevistas encerram nova rodada de assembleias que
decidirá os rumos da paralisação.