O Estado de S. Paulo - 21/08/2012
Os inconvenientes de um sistema de indexação, ainda por cima
mal feito, podem se acumular em cadeia. Exemplo: o salário mínimo, com um
sistema de dupla indexação (crescimento do PIB de dois anos anteriores mais a
elevação do IPCA), tem um efeito inflacionário duradouro.
Era previsível que o funcionalismo público pleitearia
elevação real de salário igual à do salário mínimo (em torno de 10%), na falta
de uma legislação com regras claras para o direito de greve na função pública.
O Congresso Nacional também não as definiu. E o resultado é que o Supremo
Tribunal Federal vem ditando algumas normas muito tímidas.
O governo parece estar pronto a ceder parcialmente a esses
pedidos de reajustes que põem em risco a execução equilibrada do Orçamento,
numa economia em que os salários do setor púbico já ultrapassam os do setor
privado.
Não podemos alimentar ilusões de que, diante da concessão de
um reajuste real de 10%, obtido pela maioria do funcionalismo no início da
safra de dissídios das grandes categorias de sindicatos, isso não seja tomado
como base para exigências de reajustes salariais equivalentes ou até mais
elevados no setor privado.
As discussões em torno do aumento dos salários vão se
realizar num período em que os preços estarão no seu pico, por causa da pressão
dos preços agrícolas e da provável elevação do preço da gasolina, que criará
uma expectativa de retorno da inflação e, portanto, de anulação rápida das
conquistas salariais.
Os setores que foram beneficiados com o alívio temporário
dos encargos sociais logo verificarão que, com salários mais altos, o
faturamento aumentará nominalmente e a vantagem prevista com o alívio dos encargos
vai desaparecer. Já os outros setores verão o aumento de outros inconvenientes.
Há um fato inelutável: a competitividade da economia
continuará diminuindo e tornando sem efeito os ganhos de eficiência que
poderiam decorrer de uma melhora da infraestrutura, a partir dos investimentos
anunciados no País.
Temos de ser realistas: outros países, como o Chile e o
México, estão tendo taxa de crescimento muito superior à nossa, embora sofrendo
também, como a nossa economia, dos efeitos da crise nos países desenvolvidos. É
um desdobramento que nos pode eliminar do grupo dos países que conseguiram
manter crescimento num contexto internacional desfavorável (Brics). Mas pior do
que isso pode ser a volta progressiva da superinflação.