Cristiane Bonfanti
O Globo - 22/08/2012
Estudo mostra que,
nos últimos nove anos, valor médio pago cresceu 33%, para R$ 7,2 mil
BRASÍLIA Em greve que já dura mais de três meses, os
servidores públicos federais tiveram reajustes salariais não apenas acima da
inflação, nos últimos nove anos, mas além do crescimento da economia.
Levantamento feito pelo economista Raul Velloso, a pedido do GLOBO, mostra que, enquanto o valor médio pago ao pessoal ativo da União teve ganho real de 33,2%, passando de R$ 5,3 mil em 2002 para R$ 7,2 mil em 2011, o PIB per capita (a geração média de riquezas de cada brasileiro) cresceu 26,7% no mesmo período.
Levantamento feito pelo economista Raul Velloso, a pedido do GLOBO, mostra que, enquanto o valor médio pago ao pessoal ativo da União teve ganho real de 33,2%, passando de R$ 5,3 mil em 2002 para R$ 7,2 mil em 2011, o PIB per capita (a geração média de riquezas de cada brasileiro) cresceu 26,7% no mesmo período.
Para o especialista em finanças públicas, ao priorizar os
gastos com o funcionalismo, o governo deixa de fazer investimentos
indispensáveis para que a atividade econômica cresça sem pressionar os preços
de bens e serviços. A seu ver, do ponto de vista das contas públicas, este não
é o momento para conceder aumentos aos servidores.
- O mais grave é que esse dinheiro deixa de ser aplicado,
por exemplo, em infraestrutura, que está em situação de terra arrasada. Hoje,
menos de 3% do Orçamento são destinados a esses investimentos. E o governo tem
dificuldade de transferir essas obrigações, muitas vezes pouco rentáveis, para
a iniciativa privada - disse Velloso, que fez os cálculos das remunerações
médias já corrigidas pela inflação.
Dados do Ministério do Planejamento mostram que, enquanto na
gestão FH, a despesa com pessoal da União aumentou 109% - de R$ 35,86 bilhões
para R$ 75,03 bilhões - no governo seguinte o salto foi de 144,2%: de R$ 75,03
bilhões para R$ 183,27 bilhões. Proporcionalmente, a elevação mais expressiva
foi registrada na folha de pagamento dos servidores do Judiciário, de 189,7%.
Para o Executivo, o índice foi de 136% e, para o Legislativo, de 128%.
Economista defende limite de gastos
O inchaço é reflexo dos aumentos salariais expressivos
concedidos nos oito anos do governo Lula. Na gestão do ex-presidente, pelo
menos 64 categorias foram beneficiadas com reajustes salariais que
ultrapassaram 250%. Para o cargo de analista do Banco Central, de 2002 para cá,
a remuneração inicial saltou de R$ 3.636,59 para R$ 12.960,77, um aumento de
256,3%. Em termos reais, o reajuste foi de 109,3%, considerando uma inflação
acumulada de 70,3% no período. Para os técnicos, o aumento real foi de 147,6%.
Na avaliação do economista Felipe Salto, da Tendências
Consultoria, com tantos pedidos na mesa, o controle efetivo da despesa de
pessoal só será possível se for incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) um limite para esses gastos.