Blog do Josias -
13/08/2012
Brasília terá uma semana elétrica. Sob os efeitos do
curto-circuito provocado pelas greves, governo e servidores medirão forças ao
redor da folha salarial da administração pública. Dilma Rousseff abre o
expediente desta segunda (13) num encontro Miriam Belchior. Convocou a ministra
do Planejamento para definir o tamanho das poucas concessões que o governo
admite fazer para devolver às repartições os funcionários que cruzaram os
braços –alguns deles há mais de dois meses.
Movidas pelo ânimo de esticar a corda, as entidades
sindicais que representam as corporações do Estado armarão suas barracas na
Esplanada. Anunciam que o “acampamento” vai durar até a próxima sexta-feira
(17). Na quarta (15), repetirão uma coreografia que vai se tornando rotineira
em Brasília. Exibirão sua revolta às lentes de cinegrafistas e fotógrafos numa
marcha rumo à Praça dos Três Poderes.
O encontro de Dilma com Miriam Belchior começa às 9h30, no
Planalto. Como que antevendo uma conversa longa, a presidente não incluiu em
sua agenda nenhum outro compromisso para o período da manhã. Deseja esgotar o
tema. O governo não cogita conceder um reajuste linear aos servidores. E a
análise pontual de diferentes categorias exige tempo.
Dilma move-se em faixa estreita, espremida por duas
premissas que considera incontornáveis: 1) a crise e suas consequências sobre a
arrecadação de tributos conspiram contra os gestos de generosidade fiscal; 2)
as reinvindicações dos grevistas –R$ 92 bilhões na conta oficial— não fazem
justiça aos reajustes concedidos sob Lula e não ornam com a política de cintos
apertados que a nova conjuntura impõe. Vão à mesa, portanto, cifras bem mais
miúdas do que as almejadas pelos servidores sublevados.
Munida das balizas fixadas por Dilma, a pasta do
Planejamento abre-se para a negociação nesta terça (14). Na primeira rodada,
vão à mesa as propostas para os servidores do Ministério do Desenvolvimento
Agrário, que inclui o Incra. Dividem-se em 26 categorias, entre funcionários de
nível médio e superior. Encontram-se de braços cruzados em 25 Estados e no
Distrito Federal.
Nas relações do Estado com seus funcionários quem sabe
escolher o momento exato costuma economizar muito tempo. Disseminou-se a
avaliação de que, sob Dilma, o governo demorou a entrar em campo. Move-se a 18
dias do prazo final para o envio da proposta de Orçamento de 2013 ao Congresso:
31 de agosto. O receio de ser esquecido na previsão de gastos empurrou algo
como 350 mil servidores para a greve.
Produziu-se, de resto, um efeito político impensável. Braço
sindical do PT, a CUT pôs-se a açular os grevistas. Mais: associou-se a uma
reclamação sindical dirigida à OIT na qual o governo da presidente petista é
chamado de “totalitário e ditatorial”. Pior: para não ficar falando sozinha, a
CUT arrastou para uma nota de repúdio a Dilma as outras quatro centrais
sindicais que a apoiaram na sucessão presidencial de 2010.
Divulgado neste domingo (12), o documento das centrais
expressa apoio às greves e atribui o fenômeno à “falta de negociação”. Acusa
Dilma de mimetizar “governos passados”. Critica o corte do ponto e a intenção
do governo de substituir grevistas federais por servidores estaduais e
municipais. Providências que “servem apenas para acirrar os ânimos e por lenha
na fogueira do descontentamento.”
O texto se insurge contra “todas as formas de autoritarismo
no trato com reivindicações legítimas dos trabalhadores e trabalhadoras do
setor público.” E arremata: “As centrais sindicais reconhecem que a saída para
a paralisação está na disposição das partes de sentarem à mesa e negociarem até
a exaustão, tendo como perspectiva a solução rápida do conflito, reduzindo, assim,
os prejuízos causados aos próprios servidores e à população.”
Assinam a peça os seguintes mandachuvas do sindicalismo:
Vagner Freitas (Central Única dos Trabalhadores), Miguel Torres (Força
Sindical), Wagner Gomes (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do
Brasil), José Calixto Ramos (Nova Central) e Ricardo Patah (União Geral dos
Trabalhadores).
Tomada pelo discurso que exibe em privado, Dilma faz ouvidos
moucos para o alarido sindical. Depois de formalizar as proposta de reajuste
que considera possíveis, exigirá o retorno ao trabalho. Desatendida, levará
adiante a execução do decreto que editou em 24 de julho (7.777), aquele que
autoriza a celebação de convênios com Estados e prefeituras para que servidores
locais furem a greve dos federais.
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