Folha de S. Paulo
- 25/09/2012
Um balanço de perdas e transtornos causados pela greve de
policiais federais, que já dura mais de mês e meio, torna-se ainda mais
desolador com o exame das razões alegadas para o movimento.
A paralisação fez despencar o número de operações para
desbaratar esquemas criminosos. Da média de 23 por mês, até julho, as ações
caíram para nove, em agosto, e quatro, na primeira quinzena deste mês. Segundo
grevistas, houve também queda em apreensões de drogas nas fronteiras do país.
Em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul e no Paraná, Estados
que concentram tais intervenções, teriam sido confiscados desde agosto meros 31
quilos de cocaína, resultado ínfimo diante da média mensal de quatro toneladas.
Como ameaça adicional, policiais da área de inteligência e
análise -responsáveis por investigações mais complexas, como as que utilizam
grampos telefônicos- também prometem cruzar os braços.
Estão em greve agentes, escrivães e papiloscopistas, 60% do
efetivo de quase 14 mil servidores da Polícia Federal. Seus pleitos estão mais
relacionados a ambições corporativas do que propriamente a queixas salariais.
Nos dois mandatos do presidente Lula, a remuneração desses
cargos quase dobrou, considerados os valores do topo da carreira (atualmente,
R$ 11.879 mensais). Descontada a inflação, os ganhos superam em 15% os de uma
década atrás.
A categoria almeja se aproximar, na escala salarial e na
hierarquia funcional, de delegados e peritos. Estes compõem a elite da PF,
cujos vencimentos máximos, próximos dos R$ 20 mil, são os mais altos das
carreiras do Executivo federal.
A disputa é antiga. Em 2004, policiais pararam por mais de
dois meses para reivindicar indefensável equiparação com os superiores.
Menos mal que o governo tenha anunciado o corte do ponto dos
grevistas. E que o Superior Tribunal de Justiça tenha determinado, na
sexta-feira, a preservação integral dos serviços relacionados a portos,
aeroportos e eleições.
Após recusarem a oferta de reajuste de 15,8% parcelados em
três anos, os policiais federais são os remanescentes isolados das paralisações
de servidores com estabilidade. Delegados e peritos aceitaram a proposta do
governo.
Um movimento irresponsável, que compromete a segurança da
população, em nada ajuda essa demanda corporativista por maior prestígio no
serviço público.
(Editorial)