sábado, 22 de setembro de 2012

Regras para greves de servidores


O Globo     -     22/09/2012




A lacuna existe desde 1988, quando foi promulgada a atual Constituição, com a restauração dos direitos civis cassados pela ditadura militar, entre eles o de greve por parte do funcionalismo. Mesmo uma Carta com excesso de detalhismo como a brasileira requer regulamentações posteriores. Várias foram feitas, menos com relação ao dispositivo da greve de servidores. Governos e partidos se omitiram diante do lobby de corporações sindicais, deixadas livres para explorar o vácuo jurídico.

Em certa medida a lacuna foi preenchida, em 2007, pelo Supremo Tribunal Federal. Ao julgar processos sobre assuntos sindicais, o STF, diante da omissão regulatória, estendeu ao funcionalismo a Lei de Greve (7.783, de 1989), de normatização das paralisações no setor privado. Passou a ser obrigatório, por exemplo, manter nos seus postos pelo menos 30% dos quadros de setores que sejam de atividades consideradas essenciais.


A Justiça tem agido, como deve ser. Ontem, o ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acolheu pedido de liminar feito pela Advocacia-Geral da União (AGU) e determinou que a Polícia Federal, em greve, mantenha 100% dos efetivos dos plantões em aeroportos, portos, assim como no atendimento à Justiça Eleitoral, nas eleições deste ano. Também foram determinados limites de funcionamento compulsório em outras atividades da PF. Mas o ideal é haver uma lei específica para o funcionalismo.


Pelo menos, a onda recente de greves de servidores, a maior em muitos anos, serviu para alertar o governo Dilma. Vários limites de sensatez foram ultrapassados por um movimento que paralisou cerca de 30 segmentos da máquina burocrática federal. A soma das reivindicações, quase todas fora da realidade, faria a já ampla folha de salários dos servidores aumentar em 50%, cerca de R$ 90 bilhões, o tamanho do orçamento da Saúde. 


Isso embora muitas categorias tenham recebido generosos reajustes na Era Lula.

Ficou evidente, também, o descaso com a população. Blindados com a estabilidade de emprego, funcionários se sentem acima de tudo e todos. Ficou registrada a falta de medicamentos importantes para pacientes em tratamento de quimioterapia, diabéticos etc., porque fiscais impediram a entrada de importações essenciais.


A presidente Dilma, então, encomendou à AGU um projeto de regulação dessas greves. Noticiou "O Estado de S. Paulo" que ela já avalizou a proibição expressa de "operações-padrão", instrumento clássico usado por certas categorias para pressionar o patrão Estado mantendo a população como refém.


Parece animador. O risco está em corporações sindicais, com trânsito livre em Brasília, engavetarem mais esta tentativa de uma imprescindível regulação.



Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra