Agência Câmara de Notícias -
08/11/2012
Policiais federais, que encerraram há um mês uma greve de 69
dias, afirmam que vão parar de novo se o governo não negociar a reestruturação
das suas carreiras.
Todos os sindicatos de categorias de servidores da Polícia
Federal foram convocados pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para
uma reunião no próximo dia 19, às 17 horas. Também estará presente o
diretor-geral da instituição, Leandro Coimbra.
Os agentes, escrivães e
papiloscopistas, que somam 9 mil servidores, realizaram uma greve de 69 dias, a
partir de 7 de agosto último, e ameaçam parar novamente as atividades, se não
forem atendidos.
A convocação para a reunião foi feita por Marcelo Veiga,
assessor do ministro, durante audiência pública da Comissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público sobre a reestruturação das carreiras da Polícia
Federal.
Durante a audiência, o presidente da Federação Nacional dos
Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink, afirmou que as três categorias são
as únicas entre as integrantes das carreiras típicas de estado que recebem
salários de nível médio, apesar de terem nível superior. Ele também afirmou que
as condições de trabalho são precárias, principalmente nas regiões de
fronteira.
Segundo Wink, cerca de 800 mil servidores federais de diversas
áreas entraram em greve nos últimos anos, mas o governo "voltou sua
ira" para os policiais federais, com uma série de represálias.
"Estamos sofrendo uma série de retaliações, repressões e perseguições. A
Polícia Federal hoje sofre um assédio moral nunca visto no Brasil", disse.
O sindicalista afirmou que muitos gestores da Polícia
Federal têm dificuldade de lidar com a democracia e com movimentos
reivindicatórios, por isso querem colocar os policiais "de joelhos",
mas não vão conseguir.
Segundo Wink, a luta da sua entidade é regular em lei as
atribuições que os policiais exercem hoje. "Portaria não cria cargo nem
atribuição", disse. "É tão simples de resolver, e por que não se
resolve? O Congresso não pode, pois a iniciativa é do Executivo. O Ministério
do Planejamento não resolve, pois depende do Ministério da Justiça.
O ministério
não resolve, porque a direção da Polícia Federal não autoriza. A direção não
aceita, porque os delegados não aceitam. Os delegados se apropriaram da Polícia
Federal, ocuparam todos os cargos, mas quem faz todo o planejamento são esses
agentes que estão aqui", afirmou.
O sindicalista lembrou que, no passado, os agentes já
chegaram a ganhar o mesmo que delegados, "nem por isso havia problemas de
hierarquia".
Diálogo
O assessor Marcelo Veiga foi vaiado quando afirmou que o
diretor-geral da Polícia Federal é um defensor da instituição. Veiga negou que
o governo tivesse fechado as portas para os grevistas da Polícia Federal e
disse que o Ministério da Justiça quer primeiro entender quais são as
reinvindicações da categoria, pois haveria uma profusão de propostas. Quanto às
reclamações sobre o trabalho nas fronteiras, ele disse que será concedido um
adicional para quem trabalha nessas regiões.
"Com relação a abusos, a postura do ministro sempre foi
aberta e franca. Qualquer tipo de perseguição, abuso ou assédio de servidor
deverá ser devidamente apurado. Essas questões não passarão ao largo.
Sobre as
perseguições, os procedimentos administrativos abertos, que foram pouquíssimos,
estiveram vinculados a duas situações específicas: o uso de uniformes de forma
ostensiva no movimento e o acesso a áreas restritas, principalmente de
aeroportos, que foram utilizados por grevistas", disse o assessor.
O presidente da comissão, deputado Sebastião Bala Rocha
(PDT-AP), disse que a comissão dá total apoio à reinvindicação de
reestruturação das carreiras da Polícia Federal. Ele disse que os parâmetros de
um reajuste deverão ser negociados no futuro. De imediato, segundo ele, o
governo poderá estender aos policiais federais o reajuste de 15% concedido aos
demais servidores.
Para ele, a convocação para a reunião no Ministério da
Justiça já representou um avanço.