Priscilla Oliveira
Correio Braziliense
- 20/12/2012
Os servidores públicos e militares e os empregados
domésticos tiveram os maiores ganhos salariais entre 2000 e 2010, conforme
dados do Censo divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O primeiro grupo computou ganho real de 40,9% — um avanço
que reforça a cultura do concurso público, sobretudo no Distrito Federal,
devido à estabilidade no emprego e aos elevados contracheques. Entre os
domésticos, o salto foi de 33,9%.
A servidora pública Flora Maravalhas, 29 anos, foi uma das
muitas brasileiras que aderiram ao serviço público. Conseguiu, depois de um ano
de estudo, ingressar como técnica em Assuntos Culturais do Instituto Brasileiro
de Museus. A técnica, que é formada em letras, conta que um emprego no governo
nunca foi a sua meta. Pelo contrário. Durante a faculdade, o objetivo era
seguir a carreira acadêmica ou na iniciativa privada. “Ao me formar, no
entanto, comecei a pensar em ser servidora por estar sem opção. Brasília é uma
cidade que respira serviço público”, disse.
O concurso trouxe estabilidade e melhora no padrão de vida
da servidora, que admite que tem vontade de buscar uma rotina mais desafiadora
na iniciativa privada, mas tem medo de arriscar. “Acho que acabei me acomodando
em um trabalho que não é o dos meus sonhos”, ponderou. “A estabilidade tem esse
lado negativo,o da acomodação. É difícil
largar um salário razoável e uma carreira estável para correr riscos. E olha
que nem tenho um excelente salário”, afirmou Flora.
A pesquisa do IBGE revela ainda que entre os 84 milhões de
brasileiros com algum rendimento, 10%, o equivalente a 8,4 milhões, estavam
entre os que recebiam o menor rendimento mensal. Eles, apesar de alguma
desconcentração de renda, perderam participação na massa salarial entre 2000 e
2010: detinham 1,1% do total da renda, fatia que caiu para 0,8%. Em
contraponto, no mesmo período, recuou a fatia de renda concentrada nas mãos dos
10% que recebem mais: de 51,3% para 48,8%.
“Houve redução na concentração de renda”, avaliou Vandeli
Guerra, pesquisadora do IBGE. Segundo ela, os 10% mais mal remunerados
conseguiram ampliar a renda, ao conquistarem ganhos de 35,9% em 10 anos. Ela
argumentou ainda que o índice de Gini dos rendimentos do trabalho caiu 11% no
período, passando de 0,602 para 0,536 — quanto mais perto de 1 pior.
(Colaborou
Victor Martins)