Eduardo Cucolo
Folha de S. Paulo - 14/04/2014
Brasília - Empréstimo consignado, descontado direto da folha
de pagamento, cobra as menores taxas, mas é para poucos Servidor e beneficiário
do INSS têm fatia maior na modalidade; poucos trabalhadores privados acessam
essa linha
Juros mais baixos têm se tornado opção restrita a
funcionários públicos e beneficiários do INSS (Previdência Social).
Esses consumidores respondem pela maior parte das operações
com o chamado crédito consignado --descontado da folha de pagamento--, uma das
modalidades com as menores taxas e que mais ganharam participação de mercado
nos últimos anos.
O consignado para trabalhadores do setor público e para quem
recebe pela Previdência representa 28% do crédito ao consumo. Há sete anos,
início da nova pesquisa de juros do Banco Central, a participação era de 21%.
Ainda são poucos os trabalhadores privados com acesso a esse
tipo de financiamento. Apenas 2% do crédito ao consumo são empréstimos
consignados a quem não está na folha do setor público.
As taxas de juros mostram a vantagem desse crédito.
Servidores públicos pagam, em média, 23% ao ano. Beneficiários do INSS, 28% ao
ano. Quem trabalha em empresas privadas que possuem acordo com bancos para
concessão do consignado, 32% ao ano.
No crédito direto sem desconto em folha, o juro está em 95%
ao ano. No cheque especial, em 157% anuais.
ENTRAVES
Um dois principais entraves ao consignado no setor privado é
a garantia do emprego e do recebimento do salário. Esse é um dos motivos pelos
quais esse mercado está restrito praticamente a grandes empresas, algumas delas
estatais de economia mista, segundo um executivo do setor bancário.
De acordo com o Ministério da Fazenda, outros dois problemas
têm inviabilizado o crescimento mais significativo do consignado privado.
A legislação atual não garante que a prestação será
descontada do salário antes de outras despesas. O desconto na folha também pode
ser inviabilizado se a empresa pagadora passar a depositar o salário em outro
banco.
As duas questões dependem de mudanças na lei que estão em
discussão no governo, segundo a Fazenda.
Os dados do BC também mostram que, com o ciclo atual de alta
da taxa básica de juros, aumentou a diferença de juros para quem recebe pelo
governo e para demais consumidores.
Na hora de repassar o aumento no custo do dinheiro, os
bancos estão evitando elevar as taxas do consignado, pois a concorrência
continua acirrada nessa área, de acordo com executivos do setor.
As únicas opções com juros no mesmo nível ou abaixo do
consignado são os financiamentos de veículos (24% ao ano) e imobiliários (10%
ao ano).
Nesses casos, porém, o crédito está ligado à aquisição de um
bem específico, oferecido como garantia. O dinheiro não pode, portanto, ser
usado para outras despesas.