Correio Braziliense
- 13/08/2013
Os sucessivos cortes no Orçamento para engordar o superavit
primário (economia para pagar juros da dívida pública) estão afetando o
funcionamento de importantes órgãos da administração. Servidores reclamam de
falta de dinheiro para arcar com contas básicas como condomínio, água e luz.
Viaturas ficam paradas nos pátios, por falta de combustível ou de licenciamento
obrigatório, e importantes projetos de fiscalização não são executados. As
repartições estão sem café, tinta para impressora e até papel higiênico.
A questão é tão delicada que alguns órgãos não comentam o
assunto, a exemplo da Receita Federal, que não quis se manifestar. Em outros
casos, os números apresentados pelas instituições eventualmente prejudicadas
não batem com os divulgados pelo Ministério do Planejamento. Segundo Rudinei
Marques, presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças
e Controle (Unacon), em setembro, o dinheiro da Controladoria-Geral da União
(CGU) acaba. Não haverá como pagar telefone, água e luz. Por falta de verba, as
operações especiais deixaram de ocorrer. Em 2010, foram 24 ao todo. Baixaram
para 17, em 2013. E este ano, até julho, foram apenas oito. Segundo o
Planejamento, o orçamento da CGU é de R$ 77,8 milhões.
Nem o maior órgão arrecadador do país foi poupado. “Temos
restrição para tudo. Do material de expediente ao papel higiênico. Nada nos é
revelado oficialmente sobre contingenciamento. Mas há rumores de que a
tesourada na Receita chegou a 70% em relação a 2013. O maior corte de todos os
tempos”, contou Silvia Helena Felismino, presidente do Sindicato Nacional dos
Analistas Tributários (Sindireceita), ao destacar que falta gasolina para os
carros e dinheiro para manutenção de lanchas. O Fisco não se manifestou sobre o
assunto.
No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
segundo Ana Magni, diretora da associação nacional dos servidores do Instituto
(AssIBGE), os reflexos são visíveis. “Os
carros estão todos sem seguro, com pneus carecas e sem manutenção. Temos
relatos de aluguéis e condomínios atrasados pelo Brasil afora. É um caos. A
consequência são programas parados”, revelou Ana. De acordo com a assessoria do
órgão, diante da redução no Orçamento da União
e do corte de 50% nos gastos do Ministério do Planejamento, o IBGE adiou
de 2015 para 2016 a contagem da população.