Vera Batista
Correio Braziliense
- 29/06/2015
Nos cálculos do corrosômetro do Sindicato Nacional dos
Funcionários do Banco Central (Sinal), a queda no poder aquisitivo saltará para
22,8%, ao final de 2019
Os servidores públicos federais foram pegos de surpresa com
o anúncio pelo governo do índice de reajuste salarial de 21,3%, em quatro anos
até 2019. Ainda atônitos, um dia depois da divulgação, indignados,
classificaram a oferta de “indecorosa”. Eles reafirmam a intenção de manter o
aumento pleiteado pelo conjunto do funcionalismo, de 27,3%, já em janeiro de
2016, e prometem exacerbar ainda mais os atos de protesto em todo o país. Nos
cálculos do corrosômetro do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco
Central (Sinal) – indicador criado para computar perdas salariais -, a queda no
poder aquisitivo, que já estavam em 20%, desde 2010 até 2015, vai saltar para
22,8%, ao final de 2019.
“Nossa expectativa é de uma rejeição generalizada.
Infelizmente, vamos dizer ao governo que a contraproposta não nos atende, não é
satisfatória e ele terá que melhorá-la. Vamos retornar a bola ao Ministério do
Planejamento e esperamos que as contas sejam refeitas”, explicou Daro Piffer,
presidente do Sinal. Há outras divergências entre os índices do governo e os
dos trabalhadores. De acordo com o secretário de Relações do Trabalho do
Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, foram levadas em conta as
projeções de inflação do mercado, consolidadas no Boletim Focus do Banco
Central de 19 de junho de 2015 (5,5%, 4,8%, 4,5% e 4,5%, respectivamente para
2016 a 2018).
O Sinal aponta que o mesmo documento do BC sinaliza inflação
de 8,97% para 2015, que não foi considerada. No entender de Daro Piffer, o
governo quer, com essa estratégia, passar uma borracha no passado. “As perdas
tendem a ser eternizadas. É verdade, como disse Mendonça, que o ex-presidente
Lula recuperou o poder aquisitivo perdido com a política restritiva na era FHC.
Mas queremos chegar ao patamar da época de Itamar Franco. Não dá para jogar
todo o trabalho do governo Lula no lixo”, irritou-se Piffer. Mais grave ainda,
no entender do líder sindical, é que não é possível confiar nas projeções de
inflação da atual equipe econômica.
Em 2012, após uma das maiores greves dos últimos tempos, as
projeções eram de inflação a 5% naquele nos três anos seguintes (2103, 2014 e
2015). Apenas em 2013, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a perda do poder aquisitivo fechou o ano em 5,91%. Em 2014,
chegou a 6,41%, muito próximo ao teto da meta estabelecida pelo BC, de 6,5%.
Nesse clima de ceticismo, os servidores apontam que a proposta do governo
perdeu ainda mais o sentido porque não considerou que até mesmo os 27,3%
apresentados pelo Fórum dos Servidores Públicos Federais já estava defasado.
Em março, as estimativas eram de ganho real, até junho de
2016, de 2%. Porém, a previsão de inflação estava na casa dos 6,6%. Como agora
beira os 9%, esse ganho foi perdido. “Não podemos cair nessa armadilha. O
governo apresentou a proposta justamente no Dia Nacional de Luta, tentando
esvaziar o movimento. Mas não adiantou. O que o Planejamento apresentou não foi
uma contraproposta. A nossa pauta de reivindicação tem oito eixos. O salário é
apenas um deles. Com certeza, no dia 7 de julho, vamos reiterar que nossa
proposta não mudou, continuamos com os 27,3% para 2016, buscando repor, pelo
menos a inflação nos anos seguintes”, reforçou Piffer.