Gazeta do Povo
- 03/09/2015
Em um momento no qual a União tem pouca margem de manobra em
suas contas e o relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros
(PP-PR), defende a discussão de um eventual congelamento de reajustes do
funcionalismo público, os servidores federais ameaçam intensificar os embates
com o Palácio do Planalto. E a crescente pressão contra o governo se traduz em
desconforto para a população: filas se formam, em vão, diante de agências do
INSS de portas fechadas, unidades de ensino permanecem sem aulas e pilhas de
processos estão paradas no Judiciário.
Mais de 20 categorias se mobilizam para uma marcha em
Brasília na próxima quarta-feira (2). Além disso, servidores de algumas áreas
que vinham funcionando normalmente até esta semana aprovaram a realização de
greves por tempo indeterminado, o que deixa a presidente Dilma Rousseff, já
confrontada pelo cenário político, ainda mais pressionada.
O governo federal ofereceu aos servidores um reajuste de
21,3%, que seria alcançado ao fim de quatro anos (a correção salarial começaria
em 2016 e terminaria em 2019). Sindicatos rejeitaram, alegando que não há como
fazer qualquer previsão sobre o cenário econômico ao longo do período. Entre
algumas categorias, a expectativa é que seja apresentada uma outra proposta,
com um prazo de dois anos, no máximo, para o pagamento do percentual sugerido.
Para Sandro de Oliveira Cesar, presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, o governo deveria negociar um
reajuste anual: “O governo não tem conseguido acertar a meta da inflação. Quem
garante que vai acertar o reajuste?”
Ânimos acirrados
Um dos casos mais delicados para o governo é o dos
servidores do Poder Judiciário, em greve há três meses na maioria das regiões.
A reivindicação principal da categoria é um reajuste salarial de 53% a 78,56%
(de acordo com a função), aprovado pelo Senado no dia 30 de junho, mas vetado
por Dilma quase um mês depois. Em busca de uma saída, o presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, enviou ao Congresso uma
outra proposta, de 41,47%, também rechaçada.
Entre os servidores federais que aprovaram indicativo de
greve estão categorias capazes de paralisar serviços importantes, caso dos
Correios. E servidores do Banco Central de dez estados fizeram ontem uma
paralisação de 24 horas. Além de exigirem aumento salarial, eles protestam
contra a possibilidade de o governo tirar o status de ministro do presidente do
BC.
Três ministros do STF defenderam ontem o corte do ponto de
servidores grevistas. Para Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, é
permitido fazer greve no serviço púbico, mas dias parados devem ser
descontados. Eles afirmaram que o poder público não pode pagar por um serviço
que não foi prestado. As opiniões foram manifestadas no julgamento de um
processo interrompido por pedido de vista. Não há previsão de quando a ação
chegará ao plenário.
(Agência o Globo)