BSPF - 30/11/2015
Diplomata Jackson Oliveira entrou no Itamaraty com bolsa
para afrodescendentes; para ele, reserva de vagas vai reduzir déficit de
representação nas carreiras mais prestigiadas
No Brasil, os negros são 54% da população, mas representam
apenas 32% do total de servidores públicos federais. Em carreiras prestigiadas,
essa proporção não chega a 15%. A quantidade de brancos ocupando cargos
públicos com nível superior é três vezes maior que a de pretos e pardos.
Para o diplomata Jackson Oliveira, essa diferença é bastante
óbvia. Filho de um carteiro e de uma professora do interior da Bahia, ele conta
que, mesmo na universidade federal em Salvador, não via professores negros.
“Estudei dez anos entre graduação, pós e mestrado e nunca
tive um professor doutor negro. Em compensação, ia ao banheiro e a menina que
estava limpando era negra”. Para ele, a melhor forma de resolver a curto prazo
o que chama de “construção desse imaginário que leva ao racismo velado no
Brasil” é por meio das cotas raciais.
Desde 2014, o governo federal sancionou a Lei 12.990, que
institui 20% de cotas para negros nos concursos públicos federais, quando há
três cargos ou mais.
A legislação já garantiu vagas para 638 candidatos negros ou
pardos no Poder Executivo em apenas um ano, segundo levantamento da Secretaria
de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, vinculada ao Ministério das
Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
Para se tornar diplomata, o profissional deve ser aprovado
no concurso do Instituto Rio Branco e passar por dois anos de formação. O
baiano de 45 anos conta que desde cedo tinha o objetivo de seguir essa
carreira, mas só depois descobriu que era um sonho muito caro.
"Além de ser historicamente uma casa para brancos que
iam representar o País no exterior, a entrada é muito cara. Os alunos que
ingressavam o Instituto Rio Branco eram de famílias renomadas, que falavam
várias línguas, estudaram em escolas boas. E a gente sabe que isso não acontece
com a maioria esmagadora da população negra no Brasil".
O desejo só se tornou realidade depois de Jackson conhecer o
Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, que concede Bolsas-Prêmio
de Vocação para a Diplomacia. Desde 2003, o instituto concede bolsas no valor
de R$ 25 mil para afrodescendentes com intuito de ajudar na preparação para o
concurso durante o período de um ano.
Oliveira conseguiu ingressar na terceira tentativa. Mesmo
com o auxílio, em sua turma de 150 diplomatas apenas dois eram negros. Com a
Lei de Cotas para os concursos públicos, Jackson espera que esse número
aumente.
“Felizmente, o problema econômico para entrar no Itamaraty
está diminuindo por causa das Bolsas-Prêmio. Só estou aqui hoje por causa dela.
Mas quando você institui 20% das cotas, automaticamente você já coloca negros
nesses cargos”, comenta.
Com mestrado sobre a presença dos negros na diplomacia
brasileira em seu currículo, ele explica que nos últimos 12 anos a média de
negros por turma do Instituto Rio Branco é de no máximo três. Neste ano, com a
aplicação da Lei de Cotas para o concurso público, a próxima turma de 30
diplomatas terá necessariamente seis negros.
“Em 12 anos, são 21 negros que entraram no Itamaraty por
causa da Bolsa-Prêmio. Em dez anos de Lei, serão pelo menos 60. São três vezes
mais, em menos tempo. O sistema de cotas vai ajudar consideravelmente a
presença e a representatividade dos negros no serviço federal”, diz.
Fonte: Portal Brasil