Vera Batista
Correio Braziliense
- 26/11/2015
Notícia de que governo pretende pagar parcela prevista para
agosto de 2016 somente em dezembro, mobiliza trabalhadores
Qualquer mudança nas datas previstas para o início do pagamento
dos reajustes salariais dos servidores públicos federais (estabelecido para
agosto de 2016) vai desencadear uma onda de paralisações, que poderá ser ainda
mais forte que a registrada em 2012, a maior da história do funcionalismo. A
possibilidade de a equipe econômica adiar para dezembro o repasse do recursos
aos contracheques - para reduzir os gastos e cumprir a meta de superavit
primário de 0,7% do PIB -, desagradou tanto as carreiras da base quanto aos
servidores de elite.
"O governo já está acostumado a rasgar acordos
assinados, seja em relação à reestruturação das carreiras, seja à valorização
dos trabalhadores. Mas, desta vez, o ato é inédito e muito pior que os
anteriores, porque vai provocar um grande impacto no bolso dos servidores. Caso
os boatos de postergação da data se concretizem, vai ser difícil segurar a
base. O rompimento do trato, infelizmente, nos dará instrumentos consistentes
para uma grande greve, nos mesmos moldes da que aconteceu em 2012",
afirmou Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa 80% do
funcionalismo. O acordo com a Condsefprevê reajuste dividido em dois anos
-5,5%, em agosto de 2016, e 5%, em janeiro de 2017.
Roberto Mota, presidente da União dos Advogados Públicos
Federais do Brasil (Unafe), ficou apreensivo. Está marcada para amanhã a
assinatura do acordo específico para a carreira - 21,3% de aumento, em quatro
anos, os mesmos 5,5% e 5% até janeiro de 2017, mais 4,75%, em janeiro de 2018,
e 4,5, em janeiro de 2019.
"Acho estranho não ter havido qualquer manifestação do
Ministério do Planejamento. Convencer a categoria para o acerto que está aí já
foi um processo traumático. Chegamos a tentar até antecipar o início do pagamento
para abril, sem sucesso. Se houver qualquer imposição sobre dezembro, a
categoria vai ter que avaliar, mas não descarto uma greve geral", disse
Mota.
A campanha salarial de 2015 se arrasta desde maio, quando o
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa recebeu as lideranças sindicais dos
servidores, que, a época, pediam reajuste de 27,3%, em 2016. Em agosto, o
governo acenou com 21,3%, em três parcelas. Os servidores, principalmente os da
base da Condsef, inseguros, exigiram a redução do prazo para dois anos, temendo
acumular perdas maiores do poder aquisitivo. Depois de muitos protestos e
reuniões, em 29 de setembro, o acordo de 10,8%, pago em duas vezes, até janeiro
de 2017 foi fechado.
Enrolação
O presidente do Condsef, Sério Ronaldo da Silva, chamou de
enrolação as atitudes do governo. Ele acusa do governo de já ter mudado o prazo
da entrega dos projetos que consolidam os aumentos no Congresso, de 30 de
novembro para 18 de dezembro. "Começamos a suspeitar que tudo pode
acontecer." O Ministério do Planejamento, em nota, informou que "não
vai se pronunciar sobre o adiamento do reajuste".
AGU
Servidores administrativos da Advocacia-Geral da União (AGU)
promoveram um Dia Nacional de Luta, em todo o país, em busca de informações
sobre o plano específico de carreira para os servidores do órgão. Em Brasília,
se reuniram em frente ao Ministério do Planejamento, mas depois de encontro com
o secretário de Relações do Trabalho da pasta, Sérgio Mendonça, descobriram que
o acordo ainda não foi fechado.