BSPF - 23/11/2016
No ano passado, entre 673 setores econômicos, a
administração pública foi a que mais gerou vagas para brasileiros com diploma
universitário: um total de 68.625
Em busca de estabilidade e salários melhores, boa parte dos
trabalhadores com ensino superior tem optado pelo emprego no setor público.
Com a recessão, que vem produzindo um forte aumento do
contingente de desempregados, essa atratividade aumentou ainda mais.
No ano passado, entre 673 setores econômicos, a
administração pública foi a que mais gerou vagas para brasileiros com diploma
universitário: um total de 68.625.
Em 2014, o segmento empregava 37,4% dos trabalhadores com
nível superior. No ano passado, essa fatia atingiu 38%, o maior avanço relativo
entre todos os setores.
Embora tenha contribuído para frear o desemprego de
profissionais qualificados, nem todas as vagas do setor público são condizentes
com a formação do candidato.
Reportagem da Folha publicada no domingo (20), com base na
Rais (relatório anual sobre o mercado de trabalho formal), mostra que milhares
de brasileiros com ensino superior têm aceitado empregos de menor qualificação
para conseguir uma vaga. A tendência também se aplica às posições que
profissionais buscam no setor público.
Cargos que exigem ensino médio -como professor em início de
carreira na educação infantil, agente de segurança penitenciária e auxiliar de
judiciário- estão entre os que mais geraram emprego para profissionais com
diploma.
Pesquisador do Insper, Sérgio Firpo afirma que, no longo
prazo, o setor público no Brasil deforma o mercado de trabalho: incentiva que
talentos busquem a estabilidade em vez de correr riscos no setor privado,
provocando uma ineficiência da economia.
O setor público faz um verdadeiro brain drain [fuga de
cérebros] no mercado de trabalho. Isso faz com que um engenheiro bem formado,
em vez de fazer pontes, por exemplo, esteja carimbando papéis numa repartição
ou Tribunal de Contas.
SEM ALTERNATIVA
Formada em arquitetura, com pós-graduação na FGV, a carioca
Jéssica Bruno, 31, passou a estudar para concursos depois que perdeu o emprego
em um escritório. O que me levou a fazer concursos é a falta de emprego.
Como muitos profissionais do Rio, Jéssica trabalhou numa
empresa ligada ao setor do petróleo, mercado que murchou com a crise da
Petrobras. Depois que saiu de lá, tentou oportunidade no escritório de
arquitetura, mas se queixa do clima negativo no mercado.
Todos os meus amigos ou foram mandados embora ou estão com
medo de perder o emprego. Decidi que não quero mais ficar nessa tensão , diz.
Além disso, o salário oferecido nos concursos é mais do que estão pagando para
arquitetos [no setor privado].
Jéssica decidiu concorrer a vagas que exigem apenas o ensino
médio e agora tenta entrar no serviço público como técnica do Judiciário. Eles
oferecem mais vagas, e a prova é mais fácil. No último concurso que tentei
[para o Ministério Público], havia uma vaga de arquiteto e 17 para técnicos.
FREIO NA TAXA
Em temporada de desemprego, como agora, Firpo calcula que a
desocupação entre os profissionais com ensino superior estaria bem mais elevada
não fosse o contingente que aderiu ao serviço público. A taxa de desemprego
para essa camada da população, hoje ao redor de 6%, saltaria para 8% se fossem
retirados da conta os servidores públicos.
Desde 2012, a participação do funcionalismo no total de
ocupados nunca esteve tão elevada quanto no segundo trimestre de 2016.
Possivelmente resultado da redução do emprego no setor privado.
Ele observa que o nível educacional subiu em toda a força de
trabalho. Mas, entre os servidores públicos, o aumento é mais expressivo. Mais
da metade dos estatutários e militares tem ensino superior. No resto do
mercado, o percentual não chega a 15%. As pessoas que estudaram menos recebem
menos e estão mais expostas ao desemprego , afirma Firpo. Com informações da
Folhapress
Fonte: Folha do Estado