ISTOÉ DINHEIRO
- 12/02/2017
A crise na segurança pública, escancarada na semana passada
com a paralisação dos policiais militares no Espírito Santo, que ameaçava se
espalhar para outros Estados, adicionou um novo obstáculo para a reforma da
Previdência. Segundo levantamento feito em alguns Estados, os militares são
responsáveis por cerca de um terço do rombo das previdências estaduais, mas
ficaram de fora da reforma proposta pelo governo. A ideia era enviar um projeto
com novas regras para a aposentadoria dos militares até o fim de março, mas
fontes do governo admitem que essa possibilidade está cada vez mais distante.
“O momento não é oportuno para entrar nessa discussão,
porque o Congresso já vai estar bastante tensionado por conta da reforma da
Previdência e da reforma trabalhista. É hora de avançar na reforma
previdenciária geral”, avalia o cientista político Murillo de Aragão,
presidente da Arko Advice. Para ele, a previdência dos policiais, inclusive
civis e federais, que estão dentro do projeto de reforma da Previdência,
precisa ser discutida de forma separada por conta do risco da profissão.
Mas, sem equacionar a questão dos policiais militares e
bombeiros, os Estados dificilmente conseguirão equilibrar suas previdências. Só
em São Paulo, o pagamento de benefícios a 94,6 mil inativos e pensionistas
militares deixou um rombo de R$ 5,78 bilhões no ano passado, ou 33,8% do
déficit total de R$ 17,11 bilhões na Previdência estadual.
No Rio de Janeiro, Estado cujas finanças entraram em colapso,
os benefícios de 43,2 mil inativos e pensionistas militares geraram resultado
negativo de R$ 3,012 bilhões em 2016, o que corresponde a 25,1% do déficit
geral de R$ 12 bilhões da Rioprevidência. O governador do Rio, Luiz Fernando
Pezão, já se declarou favorável a medidas que mantenham os policiais militares
por mais tempo na ativa.
O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, por sua
vez, até já apresentou um projeto de lei para retardar a aposentadoria dos
militares. O objetivo é instituir um tempo mínimo de serviço militar efetivo de
25 anos e extinguir a possibilidade de usar licenças especiais não gozadas para
completar o tempo que falta para aposentadoria – o que, na prática, antecipa em
cerca de três anos a requisição do benefício.
No caso gaúcho, o rombo com benefícios a militares foi de R$
2,385 bilhões no ano passado, 27% do déficit geral dos servidores do Estado, de
R$ 8,97 bilhões. Essa proporção cresceu em relação a 2015, quando era de 23%.
Não há um dado consolidado da representatividade dos
militares no déficit previdenciário de todos os Estados. Em uma carta pública
de dezembro, o Comsefaz, que reúne os secretários de Fazenda estaduais,
mencionou que PMs e bombeiros representaram 47,3% do rombo nas previdências dos
Estados em 2015, mas a origem desse dado nunca foi detalhada.
A Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda disse
não ter uma informação resumida do quadro, mas o governo federal está fazendo
um mapeamento da situação em todos os Estados. Por serem uma categoria mais
numerosa, os professores provavelmente respondem por uma fatia maior do rombo
previdenciário, mas eles já estão incluídos no projeto de reforma.
Buraco. Outros Estados também registram déficit na
Previdência dos militares. Em Santa Catarina, o resultado foi negativo em R$
872,5 milhões em 2016. Em Goiás, o pagamento de benefícios a PMs e bombeiros
exigiu um aporte do Tesouro estadual de R$ 32,068 milhões só em janeiro deste
ano, 19% do total do déficit previdenciário total no mês, que foi de R$ 168,31
milhões.
No Pará, o resultado do pagamento de 8,6 mil benefícios de
militares foi negativo em R$ 655,7 milhões no ano passado, 32,3% do déficit
total de R$ 2,031 bilhões. No Espírito Santo, o rombo total da Previdência foi
de R$ 1,767 bilhão em 2016, mas o Estado não detalhou os dados dos militares.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)