BSPF - 06/08/2017
Num domingo à noite recente, o Fantástico, na Rede Globo,
exibiu uma comovente matéria sobre a história dos bailarinos do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, com destaque para a primeira bailarina, Claudia
Mota, jovem talentosa e extremamente profissional, que há 10 anos se dedica ao
ofício. Ela se recusa a parar de dançar, apesar de o Estado não pagar o seu
salário há dois meses.
O drama de Claudia é o de todos os mais de 500 funcionários
do teatro. Eles poderiam ficar em suas casas e o teatro fecharia as portas, mas
as apresentações continuam (lotadas, vale dizer). Não são todos que conseguem
participar porque sem salários é difícil pagar pela locomoção até o local, mas
a maioria segue trabalhando.
Há quem diga que os funcionários públicos são preguiçosos,
mas essa turma é um exemplo de que isso não é verdade. Essa generalização é
muito injusta e prejudica a imagem dos bons profissionais que trabalham no
setor público, muito deles em área essenciais para a manutenção da vida, como a
saúde e a educação.
O Rio de Janeiro está mergulhado em dívidas, motivo pelo
qual os salários não estão sendo pagos. Mais de 170 mil servidores não recebem
seus vencimentos desde abril. É uma situação vergonhosa, resultado de anos de
péssima gestão, da recessão econômica, dos problemas na indústria do petróleo,
da queda da arrecadação e, como era de se esperar, da corrupção envolvendo o
ex-governador Sérgio Cabral, ex-secretários e cinco conselheiros do Tribunal de
Contas. Todos estão presos.
É importante ressaltar a corrupção e a má gestão porque são
fatores que influenciam fortemente a qualidade dos serviços públicos prestados.
Infelizmente, nessa ‘novela’ já antiga, as vítimas são tratadas como vilãs. O
funcionário público, aquele que está na ponta e faz o contato direto com a população,
é sempre o mais criticado. É sempre ele que precisa lidar com as reclamações. É
aquele que tem a imagem manchada.
A culpa não é do servidor quando, por exemplo, faltam
medicamentos em hospitais públicos. Ele, na verdade, faz o que pode com o pouco
que tem em mãos para não deixar à míngua os doentes que chegam diariamente.
Assim também são os professores. Além de muitos casos de
falta de respeito dos alunos, eles precisam trabalhar em escolas sem carteiras,
cadeiras, materiais didáticos, laboratórios, entre outros diversos itens
essenciais para as aulas. Em algumas cidades do interior, as salas de aula
sequer têm infraestrutura. Não surpreende que muitos professores sintam-se
desmotivados (quantos não são os casos que procuram ajuda médica?). Isso se
reflete na aula e gera críticas de alunos e pais. Criticam o docente, mas
deveriam direcionar suas críticas – justas, é claro – ao poder público.
O que muitos não percebem é que essa é apenas a ponta do
iceberg. O problema está na má gestão e na roubalheira. Quando o remédio não
chega ao posto de saúde é porque houve desvios. Quando falta merenda é porque
alguém roubou a verba. Quando o Brasil fica entre os piores em níveis de
educação no mundo é porque os bilhões destinados ao ensino foram mal
administrados. Mas, apesar disso tudo, o setor público carrega a cruz que não é
dele. É a generalização do ‘tudo que é público é ruim’.
Como em todas as classe, há casos de mal servidores. Além
disso, há pessoas que buscam no setor público uma vida tranquila (que é uma
ilusão), quando o objetivo deveria ser contribuir para a sociedade com o
resultado do seu trabalho. Não defendemos que alguns profissionais recebam
salários acima do teto. É uma minoria que acaba servindo de referência para a
população. Por causa deles, muitos acreditam que todo servidor público é um tio
Patinhas que nada em dinheiro. Acreditem: essa não é a realidade da categoria.
Concordo que alguns servidores precisam ser mais conscientes politicamente e
cobrem das autoridades melhores condições de trabalho, sempre que necessário.
Portanto, há críticas merecidas.
Porém, incomoda ver como alguns setores demonizam o setor
público. Dizem que até mesmo o suposto rombo nas contas da Previdência é culpa
dos servidores, como se eles não contribuíssem mensalmente com 11% dos seus
salários.
Os servidores públicos não são especiais. Eles não querem
ser colocados em pedestais. Eles pedem apenas que a população dê o devido valor
ao trabalho que a maioria faz com correção e comprometimento. Assim como os
bailarinos do Rio, há muitos profissionais Brasil afora capazes e dedicados,
apesar de todos os obstáculos impostos pelos nossos governantes.
Por Antonio Tuccílio, presidente da Confederação Nacional
dos Servidores Públicos (CNSP)
Fonte: CNSP