BSPF - 04/08/2017
Embora em silêncio, os servidores públicos federais estão de
olho no rumo que tomará a recente ousadia dos magistrados, que pediram, na
quarta-feira, um aumento de 41,3% nos subsídios. Ninguém revela publicamente,
com receio de se comprometer. Mas, nos bastidores, denunciam, praticamente
todas as categorias do serviço público estão preparando um arsenal contra o
governo caso entre qualquer centavo a mais nos contracheques da magistratura.
Se isso acontecer, garantem que vão, em bloco, exigir o mesmo tratamento: ou
seja, novos aumentos para complementar a diferença percentual. E nessa briga,
tudo pode acontecer. De atos de protestos a greves por tempo indeterminado.
“Onde passa um boi, passa uma boiada. Ninguém vai aceitar
discriminação. Se o governo não tem consideração com a maioria e afaga uma
minoria, vai ter que arcar com as consequências”, afirmou um servidor que não
quis se identificar. Ele lembrou que o governo reclama e argumenta que precisa
apertar o cinto e ajustar as contas públicas. “Há boatos, ainda não
confirmados, de que os reajustes já acordados serão postergados e até
suspensos, o que é inconstitucional. Mas, se tem dinheiro para os juízes, não é
possível que não tenha para todos. Essa equipe econômica não pode brincar com a
verdade”, revelou.
A indignação se referia ao fato, amplamente divulgado, de
que representantes de associações de juízes se reuniram com a ministra Cármen
Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de
convencê-la a incluir os 43,1% para a magistratura na proposta orçamentária.
Dizem que sofrem com uma defasagem salarial porque foram a única categoria que
não ganhou aumento em 2015. Eles, inclusive, anunciaram que vão discutir, no
dia 9, a proposta de corte orçamentário do Executivo.
“Essa tal de Emenda Constitucional (EC 95), do teto dos
gastos, prejudicou todo mundo. Será que vamos ter exceção? Só serão
beneficiados os amigos do rei? Tem tanta gente assim com medo de ir para a
cadeia, por conta das ações na Justiça?”, ironizou o funcionário. Desde o
início do ano, os juízes voltaram a exigir o reajuste de 16%, que elevaria os
subsídios de R$ 33,7 mil para R$ 39,7mil mensais. O presidente da Associação
dos Juízes Federais (Ajufe), Roberto Veloso, criticou as declarações do governo
que todas as principais categorias de Estado tiveram aumento, menos os juízes
federais.
“Só tem crise financeira para a magistratura?”, questionou
Veloso. Ele achava, à época, que a exclusão da classe poderia ser uma
retaliação à Operação Lava-Jato. E acrescentou não considerar justo um delegado
da Polícia Federal ganhar mais do que o juiz Sérgio Moro. Veloso negou, ainda,
que a recessão econômica seja um argumento. “O país suporta um teto de R$ 39
mil”, garantiu. Em relação ao efeito-cascata (aumento automático para os
Estados), Veloso disse que o argumento não se sustenta. Para resolver, bastaria
desvincular os Estados.
Fonte: Blog do Servidor