domingo, 29 de março de 2009

Pesquisa mostra que parlamentares gastam mais com passagem aérea nas férias


Nos meses em que o Congresso paralisa suas atividades para desfrutar do recesso parlamentar, deputados e senadores batem o recorde de emissão de bilhetes aéreos. Foi assim nos últimos dois anos. Levantamento realizado pelo site Contas Abertas a pedido doCorreio mostra que justamente quando menos os políticos trabalham em Brasília, mais eles utilizam a cota de passagens, que deveria servir exclusivamente para facilitar a atividade parlamentar durante o funcionamento do Legislativo.

O terceiro-secretário da Casa, Odair Cunha (PT-MG), é cauteloso ao comentar as distorções dos gastos, mas não esconde a suspeita de que seus pares podem estar utilizando dinheiro público para viajar de férias durante o recesso. “Estamos analisando uma forma de evitar o acúmulo de créditos em nome do parlamentar. Só assim será possível evitar supostas irregularidades e o uso da cota em viagens de férias, por exemplo, ou em qualquer outra que nada tenha a ver com a atividade legislativa”, diz.

Os números justificam as suspeitas do novo secretário. Dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) mostram que no ano passado a Câmara gastou mais de R$ 13,9 milhões em viagens no mês de janeiro, em pleno recesso legislativo. A despesa é muito superior ao que foi utilizado em meses de atividade normal como março e abril, quando o gasto não passou de R$ 6 milhões.

No Senado, a situação não foi diferente. Em dezembro, por exemplo, quando só houve votações durante a primeira quinzena, o gasto com passagens foi o maior do ano: R$ 3,9 milhões. O valor é quase R$ 1 milhão superior à despesa de novembro, quando mais se usou a cota dentre os meses de funcionamento do Congresso.

Deputados e senadores não sabem explicar ao certo o porquê de gastarem durante os meses de férias quase o dobro do que utilizaram em passagens durante os meses que — pelo menos teoricamente — estiveram trabalhando. A explicação pode estar na proposta de mudanças estudada discretamente pelo deputado Odair Cunha, que será discutida pela Mesa Diretora. Apesar de não adiantar detalhes do que pretende propor, o novo secretário diz que defende o fim da cumulatividade dos créditos e a criação de mecanismos que limitem as despesas apenas a viagens referentes ao mandato eletivo.

Atualmente, os parlamentares têm direito a um limite de gastos determinado de acordo com cada estado do país, que varia entre R$ 4,7 mil e R$ 18 mil mensais. Essas quantias podem ser acumuladas e revertidas em créditos de pessoa física em qualquer companhia aérea. “Daí, é possível que se alguém viajar pouco durante o ano, consiga acumular uma alta quantia em créditos. O parlamentar pode simplesmente passar tudo para o nome dele ou de outra pessoa e usufruir desses bilhetes quando quiser e usá-lo até mesmo depois do fim do mandato. São regras que precisam ser rediscutidas e até re-elaboradas”, opina Cunha.

Gastando mais

Os números mostram também que nas duas casas do Congresso as despesas com passagens aéreas aumentaram em 2008 em comparação ao ano anterior. Enquanto em 2007 a Câmara gastou R$ 72,9 milhões com a emissão de bilhetes, no ano passado a despesa ultrapassou R$ 78,8 milhões. Já os senadores, pularam dos R$ 22,6 milhões de 2007 para um gasto superior a R$ 26,6 milhões no ano passado.

Além da área nebulosa onde paira o aumento dos gastos em passagens aéreas institucionais justamente em meses de recesso parlamentar, os valores disponíveis para que os deputados e senadores realizem viagens às custas dos cofres públicos também são uma polêmica. Na Câmara, enquanto deputados de Roraima podem gastar até R$ 18,7 mil por mês em trechos aéreos cujo preço médio é de R$ 1,5 mil, parlamentares do Distrito Federal, que não precisam se deslocar para outra cidade para participar das sessões, podem usar até R$ 4,7 mil em viagens pagas pelo erário.

Essas quantias podem ser usadas para pagar selos e telefones, mas praticamente nenhum parlamentar o faz, visto que contam com os R$ 15 mil da verba indenizatória para bancar os dois tipos de despesa. “Melhor juntar os créditos e usar no fim do ano para viajar com a família”, resume um funcionário do setor responsável pela emissão dos bilhetes aéreos.
Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra