BSPF - 10/04/2020
Proposta do ministro da Economia Paulo Guedes seria medida
de controle econômico durante a pandemia de coronavírus
A crise decorrente da pandemia do coronavírus tem
interferido gravemente na economia de todos os países, incluindo o Brasil.
diante do cenário, o ministro da Economia do País, Paulo Guedes, defendeu, no
último domingo, 5, o congelamento de salário dos servidores por dois anos.
Medida seria uma forma de contribuir para redução de despesas e estímulo à
recuperação econômica. O POVO ouviu representantes de sindicatos do Ceará para
entender a posição das categorias na negociação.
Com o congelamento, os servidores públicos ficariam dois
anos sem reajuste salarial. Para a presidente do Sindicato dos Auditores
Fiscais da Receita Federal (Sindfisco do Ceará), Patrícia Gomes, não há como
movimentar a economia se os salários forem congelados e a inflação continuar
aumentando, reduzindo o poder de compra. “O que os servidores pleiteiam, a cada
três ou quatro anos, nem é reajuste salarial, é pelo menos a recomposição do
salário por conta das perdas inflacionárias. Todo trabalhador tem que ter
direito a isso. A inflação corrói o dinheiro”, argumenta.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Docentes das
Universidades Federais do Ceará (Adufc), Bruno Rocha, a fala do ministro da
Economia “tenta colocar na população essa sensação de que o serviço público
deve arcar com o ônus da pandemia quando outros setores poderiam ajudar muito
mais e não estão sendo cobrados, como o empresarial e o industrial”, reclama.
Ele diz, ainda, que a proposta não pensa nos servidores públicos que possuem
salários mais baixos. “Existe todo um contingente de servidores públicos que
não têm um salário tão alto. Com isso, o poder de compra cai, as famílias vão
se endividar ainda mais, e já vivemos um cenário de defasagem”, reforça Bruno.
Roberto Eudes Fontenele, coordenador geral do Sindicato dos
Servidores Poder Judiciário Ceará (SindJustiça Ceará), fala que os servidores
da área estão “acompanhando o processo, mas apreensivos com o cenário”. “Somos
solidários com o Governo nesse primeiro momento, que reforça isolamento social.
Agora a questão de congelar os salários por dois anos é outra coisa, dois anos
sem acesso a direitos é outra coisa. Isso tem que ser visto com calma”, diz.
Mesmo assim, ele reforça que, nesse momento de quarentena, a postura do
sindicato é de compreensão.
“O sindicato funciona como um guarda-chuva protetor de
determinada classe, categoria. O papel não é só defender a remuneração dos
filiados, mas também a valorização daquele profissional”, pontua Patrícia
Rocha. “No caso do Sindfisco, nós defendemos a importância do auditor fiscal
para o brasileiro, que tem o papel de manter a arrecadação do País em níveis
adequados para que o Estado possa cumprir seu papel, no caso é construir
escolas, hospitais, estradas”, continua. Ela argumenta que a possibilidade de
uma redução de salário diminui o número de profissionais qualificados que se
interessam em obter o cargo.
Como medida alternativa à proposta, representantes defendem,
principalmente, taxações de impostos daqueles que detêm grandes fortunas. “É o
que Reforma Tributária deveria ter determinado. Tributação sobre grandes
fortunas eles não determinam. Quem paga imposto no País somos nós,
trabalhadores. A carga maior do imposto é nossa, é em cima do nosso salário e
do nosso consumo”, reclama Luís Carlos, um dos coordenadores gerais do
Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal do Ceará (Sintsef CE).
“Acredito que, depois dessa pandemia, nós vamos ter outro
cenário mundial no aspecto econômico e político. Será necessário repensar o
mundo, de forma diferente. E a nossa bandeira com relação a tudo isso que tá
acontecendo é a de que a vida está acima do lucro, nenhum direito a menos”,
defende o também aposentado do Ministério da Saúde.
Por Gabrielle Zaranza
Fonte: O POVO Online