Aumento dado ao funcionalismo é de difícil reversão e exigirá esforço adicional do BC no ajuste dos juros
O aumento dado pelo governo ao funcionalismo em meio à crise mundial terá um custo pesado para a inflação a médio prazo. Foi o que assegurou ontem o Banco Central, por meio do relatório trimestral de inflação. Para a instituição, ainda que os reajustes — acertados antes do estouro da crise mundial em setembro do ano passado — tenham contribuído para manter o consumo aquecido nos momentos mais agudos da crise, eles serão de difícil reversão e exigirão um esforço adicional do BC na condução da política de juros. Essa, inclusive, é a constatação de analistas e gestores de investimentos, conforme ressaltou o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita.
“Certas políticas que foram concebidas antes da crise tiveram efeito benéfico em curto prazo, ajudando a sustentar o consumo e a atenuar os efeitos da crise. Mas a reversão dessas políticas a médio prazo cabe ao governo decidir e à sociedade, manifestar-se”, disse Mesquita. Além do aumento aos servidores, o ponto considerado mais crítico, ele listou como medidas importantes para a manutenção do consumo interno durante a crise programas sociais do governo como o Bolsa Família e a Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), que garante um salário mínimo para idosos que nunca contribuíram ou não contribuíram o suficiente com a Previdência Social.
Para comprovar a importância desses programas sociais, o BC fez um estudo da massa salarial. Quando considerados somente os rendimentos dos trabalhadores, a massa salarial registrou crescimento de 4,4% até junho. Se, nesse bolo, forem incluídos todos os beneficiários de programas sociais, inclusive o seguro desemprego e o Bolsa Qualificação, além do regime de previdência complementar (fundos de pensão), a massa salarial avançou 5,3% no mesmo período. Outro dado importante para medir o impacto dos programas sociais no consumo é a comparação com o Produto Interno Bruto (PIB). A massa salarial restrita (só com trabalhadores) corresponde a 36% do total das riquezas produzidas pelo país. Já a massa salarial ampliada equivale a 48% do Produto.
“Esses dados ajudam a explicar porque o consumo das famílias não caiu no Brasil durante a crise mundial”, frisou o diretor do BC. No primeiro trimestre deste ano, enquanto o PIB caiu 1,8% sobre o mesmo período de 2008, o consumo das famílias teve incremento de 1,2%. No segundo trimestre, na mesma comparação, o PIB encolheu 1,2% e o consumo deu um salto de 3,2%.
|