MPOG - 25/01/2012
Brasília – Mais do que um ato de solidariedade e de fé cristã das pessoas que conviveram com o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, a missa de 7º dia em sua memória foi marcada por um sentimento de dor e de profunda revolta pelas circunstâncias da morte.
Autoridades, políticos, sindicalistas, servidores, gente da comunidade brasiliense lotaram hoje ao meio-dia a Catedral Nossa Senhora Aparecida, na Esplanada dos Ministérios. E todos procuravam manifestar não apenas sua admiração e afeto pelo secretário falecido na semana passada, mas também a esperança de que a morte dele não tenha sido em vão, que sirva para salvar vidas no futuro.
A começar pela própria ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que definiu numa palavra – “desalento” – o que está sentindo desde que foram divulgadas as circunstâncias da morte de Duvanier, com indícios de omissão de socorro, por ele não dispor de um cheque-caução no momento em que tentou ser atendido em hospitais particulares.
“Estou desalentada” – disse a ministra aos repórteres que a ouviram ao chegar para a missa. “Passa até de revolta, é um desalento saber que isso (a omissão de socorro) pode ter ocorrido”.
“A Policia Civil e a Agência Nacional de Saúde Suplementar estão fazendo as investigações e nós estamos acompanhando isso com bastante proximidade”, continuou Miriam Belchior. “Se houve alguma falha, queremos que haja punição. Não por ser ele um secretário do Governo Federal, mas porque ele era um cidadão numa situação de emergência. E para que isso não venha a ocorrer com nenhum outro cidadão brasileiro”.
SERVIDORES
Ao final, servidores ocuparam o púlpito da Catedral de Brasília para expressar sua dor e, ao mesmo tempo, pedir que também seja investigada a fundo a possibilidade de ter havido negligência por Duvanier ser negro – apuração que ocorre no âmbito da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República.
A mensagem de um parlamentar, o deputado Pedro Eugênio (PT/PE), foi a maneira que os servidores encontraram de pedir Justiça: “Lembrei-me que estou vivo exatamente porque tive prontíssimo atendimento” relata ele. “Por ser um ser humano, por ter sido reconhecido como deputado, ou simplesmente por ser branco? E Duvanier não foi atendido por ser negro? Estou sentindo uma grande revolta. Só penso na dor da perda evitável no campo de uma saúde que salva brancos com jeito de ricos e condena à morte negros com aparência de pobres”.
FAIXAS
Encerrada a cerimônia litúrgica, foram formadas longas filas para levar conforto e solidariedade à ministra Miriam e à secretária-adjunta Marcela Tapajós, que responde pela Secretaria até a nomeação do novo titular.
Mas continuaram as manifestações públicas, com pedidos de apuração e punição aos culpados. Servidores da Secretaria de Recursos Humanos, que Duvanier comandou de 2007 até a quinta-feira passada, se postaram do lado de fora da Cadetral de Brasília e num protesto silencioso, contrito, como exigia o momento solene, estenderam faixas em que soltavam seu grito. Um deles: “O cheque ou a vida?”.