Rogério Mori
Brasil Econômico
- 15/08/2012
O governo brasileiro enfrenta nesse momento uma enorme
pressão por reajustes salariais do lado do funcionalismo público. Esse
movimento decorre de um esforço por parte do governo no sentido de tentar
conter os aumentos dos gastos públicos e evitar a velocidade do crescimento registrada
no governo anterior.
Vale lembrar, nesse contexto, que o governo anterior
proporcionou expressivos reajustes a diversas categorias do funcionalismo,
aproveitando-se de uma situação cíclica da economia brasileira naquele período.
O governo atual herdou uma folha de pagamentos que cresceu
significativamente ao longo do mandato anterior e tenta evitar uma trajetória
de deterioração das contas públicas, evitando reajustes salariais.
No entanto, as pressões ganharam força nos últimos meses e o
movimento grevista do funcionalismo público federal tem crescido. A crescente
adesão tem colocado o governo na defensiva nesse momento.
O mais trágico dessa dinâmica é que ela ocorre em um momento
em que o ciclo econômico é desfavorável: a economia brasileira se encontra
virtualmente estagnada nos últimos trimestres e isso começou a afetar a
arrecadação de impostos e contribuições.
Adicionalmente, o governo federal tenta reeditar a fórmula
de retomada do crescimento que deu certo em 2009, com isenção de impostos em
vários setores importantes da economia brasileira.
A conjuntura econômica atual é totalmente diversa da
verificada naquele momento. O quadro econômico e financeiro global apresenta um
risco maior, onde a economia americana segue claudicando e com recessão
profunda em diversos países da Zona do Euro e elevado endividamento público.
No plano doméstico, a apreciação cambial dos últimos anos
eliminou a competitividade da indústria nacional, que registra cada vez menos
postos de trabalho.
Por sua vez, as famílias brasileiras estão bem mais
endividadas e com alto grau de comprometimento de renda, sem maiores espaços
para ampliar seu consumo. Com isso, a resposta rápida do consumo das famílias,
registrada em 2009, a partir da queda da taxa de juros e da redução dos
impostos, não se verifica neste ano.
Em outras palavras, o governo se confronta com demandas por
aumentos de gastos com servidores em um contexto no qual a economia brasileira
segue estagnada e com pouca reação a estímulos fiscais e monetários.
Claramente, esse cenário aponta para uma piora no quadro
fiscal, pelo menos no que se refere ao resultado primário das contas públicas.
Some-se a isso o fato de que 2012 é um ano eleitoral, com uma natural tendência
de aumento de gastos do governo, e que o tempo urge com as obras necessárias
para os eventos esportivos (Copa e Olimpíada) que ocorrerão em alguns anos.
Esse não é um dos cenários mais favoráveis para o governo
federal neste momento, onde a própria economia global permanece sob risco
elevado. Até que ponto ele resistirá às pressões por aumentos de gastos é uma
incógnita hoje, mas está mais do que evidente que a tensão aumentou
consideravelmente nas últimas semanas.
Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo
da Fundação Getulio Vargas (FGV)