BSPF - 05/06/2017
"Entendemos que a crise política está na raiz de todas
as outras crises. Enquanto não resolver a crise política, não se sai da crise
moral”, afirma o presidente do Fonacate.
O maior foco de resistência contra a agenda de reformas
defendida pelo presidente Michel Temer vem de dentro do serviço público. São
servidores federais, com atuação nos três poderes, que agem por meio de
entidades de organização sindical para minar o governo e evitar que as reformas
trabalhista e da Previdência sejam aprovadas da forma como foram propostas pelo
Palácio do Planalto.
Para o deputado federal e vice-líder do governo na Câmara
Darcísio Perondi (PMDB-RS), as corporações públicas e sindicais são um dos
grandes obstáculos às reformas do governo. “Elas agem com egoísmo e
individualismo”, diz. O parlamentar vê no vazamento das gravações de delatores
da JBS um exemplo de ação para atingir Temer. “Isso foi uma ação corporativa
violenta [do Ministério Público e do Judiciário] contra um presidente da
República”, afirma Perondi, apesar das evidências de corrupção e tráfico de
influência juntadas pelos procuradores no caso.
Parte dos servidores de carreiras de Estado comemoraram a
divulgação dos áudios gravados por Joesley Batista. Para eles, isso “feriu de
morte” as reformas de Temer. A oposição ao peemedebista fica clara na atuação
de entidades como a Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES). Na semana
passada, funcionários do banco ajudaram a inviabilizar a permanência de Maria
Silvia Bastos Marques na presidência do banco público, promovendo manifestações
contra investigações sobre as operações financeiras concedidas ao grupo JBS. No
meio desse pleito, predominaram críticas a Temer, que chegou a afirmar em
pronunciamento que Maria Silvia teria “moralizado” o BNDES.
A visão político-partidária da associação também ficou
evidente no seminário “Em defesa do BNDES”, promovido pela entidade no dia 17
de março. Entre os debatedores figuravam os senadores petistas Gleisi Hoffmann
(PR) e Lindbergh Farias (RJ), os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Alessandro
Molon (Rede-RJ). Não havia representante de partidos aliados ao governo Temer.
Quem também protestou publicamente foram os funcionários do
Ministério da Transparência e Controladoria. Eles reagiram fortemente contra a
indicação de Osmar Serraglio para ocupar o cargo na troca com Torquato Jardim,
que foi para o Ministério da Justiça. A manifestação foi tão incisiva que
Serraglio desistiu do ministério antes mesmo de tomar posse, em mais um gesto
de desgaste do governo Temer promovido por servidores insatisfeitos.
Outras manifestações públicas
Outras entidades já se posicionam abertamente pedindo a
saída de Temer e a realização de eleições diretas. É o caso da Federação
Nacional dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal e Ministério Público da
União (Fenajufe), entidade favorável ao “fim do governo Michel Temer”. Em
divulgação sobre a manifestação ocorrida no dia 24 em Brasília, a entidade
afirma que mais de 150 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios “para
protestar contra as reformas trabalhista e da Previdência e pedir o fim do
governo Michel Temer, atolado em denúncias de corrupção e marcado por uma das
maiores investidas contra direitos trabalhistas, sociais e ambientais dos
brasileiros”. De acordo com a entidade, 28 sindicatos de servidores do
Judiciário e do Ministério Público da União participaram da manifestação,
enviando cerca de 2 mil servidores.
O Fórum Nacional dos Servidores Federais também se
manifestou publicamente contra Temer, pedindo “Diretas Já”. A Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF), que reúne mais de 770 mil
servidores, também se posicionou contra Temer. Em nota, afirmou que: “No
momento, nossa principal meta é enfrentar esse governo ilegítimo, o desmonte do
Estado e a retirada de direitos trabalhistas. Temos que nos organizar e
resistir contra tudo isso”.
Perondi avalia que os ataques às reformas promovidas pelo
governo federal têm partido principalmente de entidades do Poder Judiciário.
“Esta é uma guerra das corporações publicas e sindicais. E por isso a sociedade
toda precisa se envolver mais sobre as reformas”, afirma. “Eu vi promotor,
líder da associação da magistratura, fazer uma defesa corporativa, pois os
próximos promotores vão se aposentar com 62 e 65 anos”, diz.
Neutralidade nas carreiras do Executivo
Nas carreiras que atuam diretamente no governo federal, a
definição de um posicionamento político é vista como uma prerrogativa dos
sindicatos, federações, e centrais, contanto que seja representativa da visão
política dos servidores, das bases. A posição contrária às reformas é
predominante entre os sindicatos ouvidos pela reportagem, que afirmam que houve
atropelamento no encaminhamento das propostas e na tramitação das reformas,
além de falta de diálogo.
Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional Permanente das
Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), afirmou que não há deliberação com os
integrantes dos sindicatos sobre posição política-partidária e que a maioria
das carreiras de Estado acreditam que há necessidade de realizar reformas, mas
que as carreiras deveriam ter participado mais da definição dos pontos a serem
alterados. “O governo, quando tomou decisões unilaterais, atropelando, sem
diálogo, ele meio que disse que ‘quem decide aqui sou eu’. Ele fez quase uma
declaração de guerra”, afirmou Marques, que ressalta que na sua visão “a luta
contra as reformas não é uma luta contra o governo”.
“Muitos sindicatos ligados a uma ou outra central sindical
têm posicionamento político. Ontem, a centrais sindicais se posicionaram em
favor do “Fora Temer”. O fórum não tem entrado nisso e não tem uma questão
definida. Mas entendemos que a crise política está na raiz de todas as outras
crises. Enquanto não resolver a crise política, não se sai da crise moral”,
afirma o presidente do Fonacate.
Jordan Alisson Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos
Servidores do Banco Central (Sinal), diz que a entidade não está adotando
posicionamento sobre questões políticas que vão além da manifestação contra as
reformas. Ele destacou que a atuação técnica dos servidores do BC não é afetada
por opiniões políticas pessoais. “Nos sindicatos das carreiras típicas de
Estado, que estão ligadas ao núcleo estratégico do governo, você vai ter
posição dos dois lados, e cabe ao sindicato evitar posições apaixonadas”, diz.
Para Pereira, os sindicatos de servidores públicos podem se
posicionar politicamente, o que está dentro da atuação histórica dos
sindicatos, mas defende que isso seja feito ouvindo os integrantes do sindicato
e não de forma isolada da diretoria. Pereira também faz uma defesa do movimento
sindical, que para ele sofre ataques. “Hoje se vê uma criminalização do
movimento sindical. Quando se faz parte de uma federação, as pessoas começam a
ver aquilo como um problema”, diz.
Policiais federais
Luis Antonio Boudens, presidente da Federação Nacional dos
Agentes da Polícia Federal (Fenapef) afirma que a entidade não está adotando
posicionamento político contra ou a favor de Temer, mas sim a forma como as
reformas estão sendo encaminhadas, com pouco diálogo.
“Percebemos que há um comando de apertar ao máximo essa
reforma. Acho que o governo não fez um balanço bom o suficiente entre dar uma
justificativa para o mercado (da necessidade de reformas) e fazer uma proposta
que tivesse chance de passar e não tivesse tanta resistência junto ao
funcionalismo”, avalia. “Um policial desmotivado, imagina como ele vai agir na
sua atuação. Ou será que ele vai agir? Ele pode ter um tipo de bloqueio na hora
da ação. A falta de incentivo para a polícia tem repercussão junto à sociedade.
Isso é o mais grave do governo não cuidar do assunto”, diz.
Fonte: Fonacate com informações Gazeta do Povo