Blog do Josias de Souza
- 13/11/2018
A encrenca do reajuste salarial dos ministros do Supremo
Tribunal Federal transformou-se num balé de elefantes. A coreografia estava
momentaneamente paralisada. Imaginou-se que o próximo passo seria executado por
Michel Temer, a quem cabe sancionar ou vetar a proposta que elevou os
vencimentos das togas supremas de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. De repente, o
ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo, atravessou no palco declarações
muito parecidas com uma chantagem.
A cúpula do Judiciário farejou na demora de Temer uma insinuação
de que o reajuste não será sancionado enquanto o Supremo não extinguir o
auxílio-moradia de R$ 4.377 pagos mensalmente a juízes e procuradores. Diante
do cheiro de queimado, Luiz Fux cuidou de esclarecer que o julgamento das ações
que questionam há cinco anos o pagamento do bolsa-moradia só o ocorrerá depois
que o presidente da República liberar o reajuste dos contracheques dos
magistrados.
Até a semana passada, tudo parecia simples como o ABC. A, o
Supremo reivindicava um reajuste. B, o Tesouro Nacional está quebrado. C, o
Senado mantinha o pedido da Suprema Corte no freezer desde 2016. De uma hora
para outra, os elefantes de Brasília começaram a dançar à beira do abismo. O
Supremo pressionou, os senadores cederam, Temer entrou na dança e Fux converteu
uma reivindicação sindical em instrumento de desmoralização do Supremo.
O Supremo alega que não pede aumento, mas reposição da
inflação. Justo, muito justo, justíssimo. O problema é que um empregado não
pode exigir do empregador o que ele nãio pode pagar. E o Tesouro já está
envididado até a raiz dos seus cabelos, caro contribuinte. Os juízes do
Supremo, se quiserem, podem trocar a folha do Estado por uma banca privada. Sem
essa alternativa, os 12,5 milhões de brasileiros desempregados preferem um Estado
equilibrado, que não atrapalhe a recuperação da economia.