Autor(es): Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo - 03/07/2011
Categoria convoca para terça-feira dia de mobilização após não ter atendido os pedidos feitos ao governo de reajustes salariais acima da inflação
- O Estado de S.Paulo
Mais de 30 entidades do funcionalismo federal preparam uma onda de paralisações, greves e protestos em busca de aumentos salariais acima da inflação. Depois de várias audiências com o governo Dilma Rousseff, sem nenhuma das reivindicações atendidas, a Coordenação Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais (CNESF) avalia ter chegado o momento de os trabalhadores apresentarem a pauta real para o governo.
A entidade convocou para esta terça-feira um dia de mobilização e promete colocar de braços cruzados boa parte do funcionalismo, o que serviria de advertência ao governo. Nessa mesma data, está prevista uma reunião, em Brasília, na qual o governo prometeu dar respostas às reivindicações econômicas da categoria.
"Para mostrar que estamos dispostos a fazer enfrentamento, vamos paralisar os serviços nesse dia de negociação", afirma Paulo Barela, membro da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), que faz parte da CNESF. "Se a resposta do governo não mostrar avanços nas negociações, vamos ter de arregaçar as mangas e ir à luta."
Nesse caso, segundo ele, o movimento unificado deverá desencadear um processo de greves generalizadas no serviço público federal nas próximas semanas. "Estamos só esquentando as baterias", diz o sindicalista.
Logo que assumiu, a presidente Dilma prometeu austeridade fiscal e redução das despesas com custeio da máquina pública, o que significa limitar ou não dar reajuste aos servidores públicos federais. Hoje, há mais de 2 milhões de servidores, entre ativos e aposentados. Os porcentuais de aumento reivindicados variam de categoria para categoria e chegam a superar 35%.
A medida representa uma guinada em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu reajustes generosos ao funcionalismo no ano passado. Tanto que as despesas da União com pessoal cresceram quase 10% em 2010, já descontada a inflação do período.
Sacrifício. Para o atual governo, agora é hora de o funcionalismo federal assumir a sua parcela de sacrifício para a Nação.
"Que "mané" contribuição o quê?", reage Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade também integrante da CNESF. "É por isso que estamos mobilizados e haverá greves e conquistas". O sindicalista argumenta que a economia brasileira segue bem, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer este ano acima de 4%, as empresas estão ganhando mais dinheiro e o governo arrecadando mais.
"O que nós queremos é uma parcelinha do lucro e dos ganhos que tanto os governos federal, estaduais e municipais quanto os empresários estão tendo", afirma o presidente da CUT.
Reforço privado. O movimento do funcionalismo será engrossada pelo setor privado. Desde maio, a CUT programou para a próxima quinta-feira um dia nacional de mobilização em defesa da classe trabalhadora. A central quer envolver todas as categorias profissionais do setor privado e público em torno de uma pauta que tem entre o seu eixo principal os ganhos reais e cláusulas sociais nas campanhas salariais do segundo semestre.
É nesse período que se concentram as campanhas das categorias mais organizadas do setor privado como petroleiros, bancários, eletricitários, metalúrgicos e químicos. A ideia é fazer paralisações nesse dia.
"Nos locais onde for possível fazer paralisação durante todo o dia, será feito. Onde a mobilização tiver força só para meio período ou algumas horas de paralisação, também é válido", afirma Artur Henrique.
As outras centrais sindicais resolveram seguir a CUT e marcaram para o mesmo dia manifestações nessa mesma linha em todo o País.
Os sindicalistas preveem que deverão pipocar greves no setor privado ao longo de todo este segundo semestre. Para o governo, deverá ser mais uma fonte de dor de cabeça. Além de ameaçar a oferta de produtos, o que poderá pressionar a inflação, as greves comprometem programas considerados importantes.
Uma greve de bancários, por exemplo, teria condições de suspender o funcionamento de agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, essenciais para a concessão de crédito agrícola e financiamentos imobiliários, como os do programa "Minha Casa, Minha Vida".